um filho da puta como outro qualquer
Tudo o que somos, tudo o que fomos, cabem numa maldita
caixinha de madeira, ou numa urna em forma de vaso.
Que é onde colocam as cinzas da gente depois da cremação.
Já pensou ? Já vislumbrou essa possibilidade ?
Meio sinistro, é verdade, mas melhor, penso eu,
que apodrecer aos poucos, comido pelos vermes, até virar
um amontoado de ossos,
e por fim no pó do qual, dizem as Escrituras, todos viemos.
O fato é que a gente vale muito pouco.
Isto na melhor das hipóteses, porque a verdade
é que não valemos nada.
Nada que justifique a soberba, a empáfia, a bazófia que tanto
se vê por aí, ainda mais depois do advento
do mundinho das redes sociais.
Tudo bem que, como diz o sábio Bukowski, sempre
haverá dinheiro, bêbados e putas para contrabalançar,
Para nos fazer sentir menos escrotos.
De repente, até uma boa pessoa.
Boa o suficiente - em nossa cabeça - para julgar os outros.
Se achar melhor que os outros.
No fundo, uns pobres coitados, que se iludem a si mesmos.
Acreditando na farsa que montam.
Até levarem o tranco inesperado.
O golpe de misericórdia.
Mas quem sou eu para julgar, apontar o dedo.
Por mais sacaneado, ultrajado, traído, não posso esquecer
que fiz a mesma coisa. Sacaneei, ultrajei, traí.
Em suma, um filho da puta como outro qualquer.
Que por razões desconhecidas, a vida poupou, condescendeu,
foi generosa.
O que não impedirá que um dia não passe de um punhado
de pó
numa caixinha
ou vaso
que ninguém sabe ao certo
o lugar mais adequado
para jogar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário