não basta ser cego
Não basta ser cego.
A conversão é lenta e fiduciária.
Panacéias, exorcismos,
incunábulos multiplicam os corredores.
A lucidez é bicho esquivo.
Nada mais inútil que tentar abrir portas
trancadas a sete chaves. Lacradas pela ignorância.
Ir contra a correnteza, a conversão por persuasão ou necessidade,
executada à base de florilégios ou no fio da espada.
Rezo provérbios,
disperso e prolixo,
malhando em ferro frio
e coisas do gênero.
O gesto tosco,
tortura e desgosto,
ataraxia predadora em que me afundo.
Não basta ser cego.
É preciso não enxergar.
Consolo torpe é ser covarde
travestido de benfeitor.
Verme por natureza, repugnante até a saciedade,
sujo e penalizado,
a conversão é lenta.
Não é fácil ser ignóbil.
O hábito desfaz o rito.
O membro viril e triste, subverte a lógica.
O desvario de quem só vê uma face da moeda.
Cifras de almas perdidas.
Olhares curiosos perpassam os truísmos.
Os outros que se danem.
O esquecido dura mais.
Quem perdurar, verá.
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