sábado, 1 de outubro de 2022


                        não basta ser cego





Não basta ser cego.

A conversão é lenta e fiduciária.

Panacéias, exorcismos,

incunábulos multiplicam os corredores.

A lucidez é bicho esquivo. 

Nada mais inútil que tentar abrir portas 

trancadas a sete chaves. Lacradas pela ignorância.

Ir contra a correnteza, a conversão por persuasão ou necessidade,

executada à base de florilégios ou no fio da espada.

Rezo provérbios,

disperso e prolixo, 

malhando em ferro frio

e coisas do gênero. 

O gesto tosco,

tortura e desgosto,

ataraxia predadora em que me afundo.


Não basta ser cego.

É preciso não enxergar.

Consolo torpe é ser covarde 

travestido de benfeitor.

Verme por natureza, repugnante até a saciedade,

sujo e penalizado,

a conversão é lenta.

Não é fácil ser ignóbil.

O hábito desfaz o rito.

O membro viril e triste, subverte a lógica.

O desvario de quem só vê uma face da moeda.

Cifras de almas perdidas.

Olhares curiosos perpassam os truísmos.

Os outros que se danem.

O esquecido dura mais.

Quem perdurar, verá. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                      o palhaço da Criação Justiça seja feita à espécie humana : não há nada mais tosco e degenerado na Criação. Filho enjei...