sábado, 25 de março de 2023



                     poema inacabado


                      Stèphane Mallarmé

           


A vida passa arrancando pedaços, chutando latas,

cravando os dentes na carótida.

Em meio à coletânea de cenas fúnebres

e dias amargos,

o esquecimento acalma o coração.

A ignorância, como acalanto, arrefece desesperos

e receios.

Não saber é uma benção.

Mantém o equilíbrio das coisas.

Nossa pequenez ancora-se no desconhecido.

O traço seco do destino tem olhos de águia. 

A aventura humana se esgota e retorna a matéria

no limiar do insólito.

Na luta fracassada, na farsa grotesca, 

a busca do inalcançável se reveste de fugazes sutilezas.

As fronteiras do mundo são estreitas.

O corpo nos trai.

Quando menos se espera, o fantasma da página em branco

de Mallarmé nos abarca.

A vida acena como um poema inacabado.






 

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