poema inacabado
A vida passa arrancando pedaços, chutando latas,
cravando os dentes na carótida.
Em meio à coletânea de cenas fúnebres
e dias amargos,
o esquecimento acalma o coração.
A ignorância, como acalanto, arrefece desesperos
e receios.
Não saber é uma benção.
Mantém o equilíbrio das coisas.
Nossa pequenez ancora-se no desconhecido.
O traço seco do destino tem olhos de águia.
A aventura humana se esgota e retorna a matéria
no limiar do insólito.
Na luta fracassada, na farsa grotesca,
a busca do inalcançável se reveste de fugazes sutilezas.
As fronteiras do mundo são estreitas.
O corpo nos trai.
Quando menos se espera, o fantasma da página em branco
de Mallarmé nos abarca.
A vida acena como um poema inacabado.
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