domingo, 14 de maio de 2023



                                         inventário





O que mais me pesa : não amei o suficiente, nem satisfatoriamente.


Vivi dando murro em ponta de faca e não aprendi.


Nunca soube dançar conforme a música.


Nunca fui sensato, sempre fui de jogar tudo para o alto.


Nunca me aprofundei em nada, a não ser em veleidades.


Meus melhores afetos já morreram e eu nem senti.


O coração arbitrário sempre fez tudo ao contrário.


Escapei de morrer um par de vezes, só Deus sabe por que.


Deixei de sonhar com o que me falta, talvez

porque nada me falta.


Nunca soube o que fazer da minha vida, mas nunca

odiei nem fiz mal a ninguém. A não ser a mim mesmo.


Meu maior desejo é chegar onde tudo recomeça.


De tudo que me lembro, só restaram dois ou três amigos

inesquecíveis. 

O resto é vasto, justo e jubiloso.


Do que se conclui que nada é tão bom

que não se possa abrir mão.


Minhas afeições de nada me valeram, de uma forma ou de outra,

todas me abandonaram.


Valho mais pelo que não fui.


Minha vida sempre foi boa, as agruras nunca passaram

de melodrama barato.


Meu maior erro foi ter nascido.














  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                                       não acredite                         quando digo                        que te amo Não acredite quand...