a engrenagem
Às vezes sinto como se minha vida
não fosse minha.
Não somos nada se não tivermos serventia.
Daí a tristeza de ser velho.
Daí o desprezo por aqueles que não são
ou não podem ser úteis.
Ninguém respeita quem não impõe respeito.
Ninguém respeita quem cala.
Ninguém respeita quem não tem nada à oferecer.
Somos meras peças de uma engrenagem fria
e calculista.
De reposição infinita.
Todos descartáveis.
Uns mais, outros menos, mas descartáveis.
A medida que fraquejamos.
Envelhecemos.
Caducamos.
Em meio ao tempo que avança, inexorável,
rezo para não esquecer quem eu fui.
Quem eu sou.
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