trincheiras
"os virtuosos hão de sempre ser louvados"
(Mário de Andrade)
A vida é bela porquanto monstruosa e magnífica.
Feito espigas de colheitas triunfantes e atrozes.
A revelia das futilidades merencórias.
Convenientemente conjuradas por demônios imaculados.
À imagem e semelhança do Criador.
A vida é bela em meio ao ódio sem perdão.
A vida é bela entre insultos e agressões.
A vida é bela para assassinos e ladrões.
Repleta de disparidades crônicas e adiposidades morais.
O clamor surdo dos martírios ecoa per omnia saecula
saeculorum.
A mansa noite fecha as pálpebras dos imolados sem razão.
Para que seu luto impuro não perturbe o sono dos justos.
Como é bonita a vida !
A vida farta, livre de dores e aflições comezinhas.
Embalada pelo gozo dos prazeres mundanos.
A vida que renasce para que sejamos mais fortes.
Transfigurada além das profecias.
Eterno é o homem e sua ambição fumarenta.
Alheio a desgraça alheia.
Das gentes sem nome, sem lar, sem pátria.
De quem é a culpa ?
A vida desgraçada dos deserdados, o diabo que os carregue !
Nada muda, nada mudou desde que o mundo é mundo.
A vida é boa, conquanto desigual e desregrada.
O puro e o heroico permeiam a inquietação fulgurante
da felicidade.
Nas armadilhas do conforto e nas lassidões do espírito,
Madalenas de fino trato fazem as honras da casa.
Miséria pari vassalos do hediondo.
Fraternidade escassa cava trincheiras em nossos peitos.
Com o risco de despertar tudo o que de melhor
e mais raro
hiberna dentro de nós.
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