sábado, 9 de dezembro de 2023



                 quando te vi pela primeira vez



 

Quando te vi pela primeira vez, 

teu olhar desconfiado 

atiçou em mim

uma espécie de inanição enroscada 

na garganta.

 

Fez meu coração bater como se estivesse

à beira de um despenhadeiro.


Quando te vi pela primeira vez,

senti iluminar o tráfego dos desejos.

Vi meus becos quebrarem o invólucro 

das gestações inflamáveis.


Nem santa nem puta, volveu vagas reativas.

Serei um novo eu a cometer os mesmos desatinos ?


É tão bonito o entardecer a teu lado.

Odores suicidas perfumam o ambiente insolúvel.

Revivendo medos cativos.

Vagos saberes partem o chão sem trilhas.


Quando te vi pela primeira vez,

senti que nada seria como antes.

Na vaga-vida-sofrida, os pés trincados absorvem

a poeira batalhada em pedra.

Vieste como uma tábua de salvação.

Para me lembrar que as flores crescem de novo.









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