para unir ou separar
Minhas tristezas aprendi a varrer para debaixo do tapete.
Me faço de forte quando minha vontade é desertar,
tomar um chá de sumiço. Sigo em frente por instinto.
Sinto o que sinto porque minto para mim mesmo,
quando minha vontade é de chorar,
mandar tudo para o raio que o parta.
Mas não sou burro, dou-me por feliz por chegar onde cheguei
com as próprias pernas, sem passar ninguém para trás.
Meu grande pecado foi trair quem mais me amou.
Sigo em frente porque não posso senão seguir em frente.
Ciente de que estou no lucro.
Que já vivi o suficiente.
Que tive e tenho muito mais do que mereço.
Certamente alguém lá em cima gosta de mim.
Alguém que é meu escudo, meu tudo, não há outra
explicação para ter sobrevivido, superado tudo
que superei.
Não me vejo com a idade que tenho, continuo cometendo
os mesmos desatinos, imaturo, inconsequente a ponto
de me apaixonar de novo e querer um novo lar, família,
essas coisas cuja data de validade é mais curta
que supomos.
Mas, ora, a vida é curta, como se diz, e a idade,
o tempo, são apenas detalhes. Há que aproveitar,
sem medo de ser feliz, acreditar que a realidade
pode ser melhor que o sonho.
E verdade seja dita, tu nunca quiseste ser parte
desse sonho. Te conheci quando ainda estava morno
o cadáver do amor da minha vida, e me contentava
com qualquer coisa que me davas,
basicamente sexo remunerado, tardes idílicas
que me levavam a tolerar tuas trapaças.
Mas eis que a vida, para variar, não tardou a dar o troco,
e para teu azar, o feitiço - no caso - virou
contra a feiticeira, e essa barriga que cresce a olhos vistos
te obriga a assumir o que sempre rejeitaste.
Loucura ou não, um vínculo eterno, um filho
para dar testemunho do que fizemos e fizermos
de certo e errado.
Um filho para fazer sorrir e chorar.
Para nos unir ou separar.
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