sobrevida
Me acostumei ao que não tenho.
O que não posso ter se inebria de sonhos eróticos
e cios recentes.
Por todos os poros de mim reverberam
os desejos insatisfeitos,
queimando pontes e investindo contra a normalidade
doentia da realidade sem futuro.
Não espero compreender nem ser compreendido.
Não espero convencer nem ser convencido.
Não há entendimento entre os homens.
Vida, vida minha,
já me basta o redemunho em que me vejo lançado.
À beira do abismo debruçado, errando pelo mundo
entre o prazer e a fadiga.
Bom mesmo era ser criança, sem planos nem expectativas.
O coração limpo e aventureiro.
Eu me proclamo melhor do que sou, mas que ninguém
nos ouça.
O que me falta, já esqueci.
Faço dessa minha quase obscuridade um templo grego,
o patíbulo de um mártir, o que eu quiser.
Levo-me para onde possa confabular
com a insaciabilidade.
Tudo o que me rodeia e me serve
alimenta os poemas
que me deram uma sobrevida.
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