sexta-feira, 15 de março de 2024



                       sobrevida





Me acostumei ao que não tenho.

O que não posso ter se inebria de sonhos eróticos

e cios recentes.

Por todos os poros de mim reverberam 

os desejos insatisfeitos, 

queimando pontes e investindo contra a normalidade

doentia da realidade sem futuro.

Não espero compreender nem ser compreendido.

Não espero convencer nem ser convencido.

Não há entendimento entre os homens.

Vida, vida minha,

já me basta o redemunho em que me vejo lançado.

À beira do abismo debruçado, errando pelo mundo

entre o prazer e a fadiga.

Bom mesmo era ser criança, sem planos nem expectativas.

O coração limpo e aventureiro.

Eu me proclamo melhor do que sou, mas que ninguém

nos ouça.

O que me falta, já esqueci.

Faço dessa minha quase obscuridade um templo grego,

o patíbulo de um mártir, o que eu quiser.

Levo-me para onde possa confabular 

com a insaciabilidade.

Tudo o que me rodeia e me serve 

alimenta os poemas

que me deram uma sobrevida.





















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