domingo, 17 de março de 2024




                sofrência





Sofro de mofo, traças, condescendências.

Sofro de incúria e impaciência.

Sofro de tangarás de penacho fino.

Sofro de cativeiros, galhos partidos, pica-paus de goela lisa.

Sofro de lusco-fuscos, conchas de vidro, vespeiros vitelinos.

Sofro de diatribes nativas, bastões argênteos, 

mãos peludas.

Sofro de palavras movediças e adultérios.

Sofro de amar o expresso, convenção de excessos,

distinções que encantam.

Sofro de males verbais, falas sem pausa,

forças arcaicas.

Sofro de ser polemista, atento aos benefícios

dos prazeres vitalícios.

Sofro da sabedoria distante dos oráculos oficiais.

Em desacordo com o efêmero.

Emocionalmente sensível a corações empedernidos.

Daquilo que só se pode evitar por acidente ou 

particularidade.

Revolvendo questões pertinentes.

Pelos quais os hábitos são infundidos.

E a alma persuadida.

Sofro de graciosas desditas, perdões involuntários,

amores-perfeitos isentos de auto-exame.

Sofro de ter nascido. 

Mundano e divino.

Preterido e metafísico.

Inconversável animal.






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