segunda-feira, 1 de abril de 2024



                  tudo o que temos de mais caro





Não aconselho ninguém a voltar onde foi feliz um dia.

Nem onde nem com quem. 

Porque nunca é a mesma coisa.

Tudo o que encontrará são ruínas, despojos, fragmentos

do que foi um dia, e não há nada que se possa fazer

a respeito.

Tudo passa, tudo acaba, tudo se esvai na mixórdia

da aventura terrestre. 

Mesmo as lembranças com o tempo traem a memória, 

em sensações longínquas e piedosas,

desvirtuando o próprio lembrar e esquecer.

O halo das fantasias mascara todas as coisas finitas,

glorificando ecos e miragens em detrimento do natural

desencanto com os seres e as coisas.

Daí o quase pesar de rever ou retornar às origens.

Por isso não faço gosto de passar por antigas moradas,

nem sinto vontade de reencontrar antigas namoradas,

e até reluto em rever velhos amigos.

Não por esquecimento ou falta de apreço, longe disso.

Prefiro, simplesmente, ficar com a imagem de como tudo era.

Antes que o tempo nos roubasse tudo o que temos

de mais caro.





 









 





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