terça-feira, 1 de outubro de 2024


                        palavras ao léu





Busco nas palavras o que ser.

Trago nas mãos o amoroso desvario de aprazíveis

oferendas.

Caminho entre canteiros de flores e ásperos aromas.

Onde quer que eu vá, persegue-me uma paz que não sinto.

O coração não mente, mas se engana.

Enamorar-se de viver é meu lema, em disputas

patéticas com o tempo.

Não se iluda, a maturidade tudo subtrai.

Você mente tão gostosamente que até acredito.

Principalmente quando diz "amo sua pica".

Palavras não contam no enleio amoroso.

Meus calhamaços de sabedoria não se comparam

a teu repertório de artimanhas.

A velhice e a doença desconhecem a vergonha, quando

desprovidos de dignidade.

Tudo o que de melhor temos, não vemos.

Os degraus de ontem remontam a sonhos desfeitos, safadezas

gozos estéreis.

A cobiça é o maior dos males, mas há atenuantes.

Mágoas sem propósito vão-se pelo ralo da autoestima.

A vida cabotina tece desmemórias, para que a alma

mais obscura

possa brilhar na escuridão.





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