sexta-feira, 17 de janeiro de 2025



                a vertigem do amor




O que me inspira já se apaga.

Jaz inerte no limbo do esquecimento.

Brinca de andorinha, brinda com vinho verde.

Martela o próprio sexo, ruge em cólera silenciosa.

Semeia brasas em camas silentes.

 

O que me inspira já se apaga.

Vielas de flores prostituídas instigam 

os clamores inefáveis.

Meus afetos despertam cadelas no cio.  

Quando nada dá certo, as certezas se exasperam

docemente.


Nada é como a gente quer, mas, eventualmente, 

a vertigem do amor transpassa

as pétalas tóxicas e a dor sem pranto.

A perpetuação do êxtase entoa cantos longínquos,

carregando o peso 

das partidas sem recobrar a consciência.


Desencarnado, o amor é uma causa 

inexoravelmente perdida. 

Revestido de sonhos, embrulhado em patacoadas,

não tarda a desandar como uma tragédia grega.

Fica quem quer, quem tem estômago.

Entorpecidos pelos encantos de Circe, 

deixamo-nos ficar à espera de algum prêmio.


Ah, o que seria de nós, homens, sem as jovens putas 

sem consolo nem vergonha, 

entre todas as mulheres as mais puras, 

posto que sem segredos 

e falsos pudores ?

Fiel à sua natureza espúria, a vida soterrada 

de bom grado entrega-se a luxúria.

Adiante dos orgasmos ignóbeis, o deliberado e 

inconstante desejo à sua maneira sobrevive.


Desesperança é tudo o que nos resta.

O tédio das vigílias faz-se metade anjo, metade

demônio.

A exaustão de viver guarda o plasma múltiplo

das paixões esmaecidas.

Capaz de todos os enganos, à míngua da beleza,

só o que não retorna permanece.

Como volitivas da vertigem do amor.





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