a vertigem do amor
O que me inspira já se apaga.
Jaz inerte no limbo do esquecimento.
Brinca de andorinha, brinda com vinho verde.
Martela o próprio sexo, ruge em cólera silenciosa.
Semeia brasas em camas silentes.
O que me inspira já se apaga.
Vielas de flores prostituídas instigam
os clamores inefáveis.
Meus afetos despertam cadelas no cio.
Quando nada dá certo, as certezas se exasperam
docemente.
Nada é como a gente quer, mas, eventualmente,
a vertigem do amor transpassa
as pétalas tóxicas e a dor sem pranto.
A perpetuação do êxtase entoa cantos longínquos,
carregando o peso
das partidas sem recobrar a consciência.
Desencarnado, o amor é uma causa
inexoravelmente perdida.
Revestido de sonhos, embrulhado em patacoadas,
não tarda a desandar como uma tragédia grega.
Fica quem quer, quem tem estômago.
Entorpecidos pelos encantos de Circe,
deixamo-nos ficar à espera de algum prêmio.
Ah, o que seria de nós, homens, sem as jovens putas
sem consolo nem vergonha,
entre todas as mulheres as mais puras,
posto que sem segredos
e falsos pudores ?
Fiel à sua natureza espúria, a vida soterrada
de bom grado entrega-se a luxúria.
Adiante dos orgasmos ignóbeis, o deliberado e
inconstante desejo à sua maneira sobrevive.
Desesperança é tudo o que nos resta.
O tédio das vigílias faz-se metade anjo, metade
demônio.
A exaustão de viver guarda o plasma múltiplo
das paixões esmaecidas.
Capaz de todos os enganos, à míngua da beleza,
só o que não retorna permanece.
Como volitivas da vertigem do amor.
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