segunda-feira, 31 de março de 2025

     



                        a coisa e o coiso



apesar dos pesares, ainda creio no amor.

Desde que sob certos requisitos, normalmente ignorados.

Mas que após tantos atropelos, tenho como

cláusulas pétreas.

Buscando correspondência e contra-partidas.

Como entre o muro e o caramujo.

A pedra e o musgo.

A calça e o suspensório.

O mico e o cipó.

A madeira e o cupim.

A coisa e o coiso.


Que haja intimidade como entre

a corda e o enforcado.

A aldrava e o portão.

O bicho e a goiaba.

O osso e o tutano.


Que o amor saiba ser vital e desimportante.

Como tudo que vive e apodrece.

Perene como palavras que secam ao sol.

Eloquente como discursos entupidos de silêncios.

Repositório de cacos de vidro, grampos, lençóis.


Mas não estranhe se mesmo assim o amor

te passar a perna.

Te fazer de otário.

Em não tendo limites nem fronteiras.

Às vezes belo e gratificante.

Em outras capaz das coisas mais ordinárias.

Em sonhos que se desfazem em outros sonhos.

Nos quais ainda se acredita 

em finais felizes.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                            sapatos amaciados É bom ouvir os segredos do silêncio. Reflito calado, à beira de mim mesmo. Renascendo no imagi...