Sepultar alguém vivo em nós não é fácil, mas é necessário. Não se trata de desejar o mal a quem foi importante, nem fingir que nunca existiu. É um ato silencioso de amor próprio, quando a alma entende que continuar dando o lugar de protagonista a quem já escolheu ir embora é uma forma lenta de morrer por dentro. Em algum momento, para seguir vivendo, é preciso aceitar que certas presenças permanecem apenas como história, e não mais como futuro.
Há relações que não acabam no adeus, acabam na insistência de um só lado. Você segue tentando, justificando, compreendendo, enquanto o outro já está em outra paisagem. E o coração, teimoso, insiste em manter um altar aceso para alguém que não aparece mais. É aí que nasce a necessidade de sepultar por dentro. Não é fechar o coração, é recolher as flores que você oferecia a quem não vinha e plantá-las no jardim da própria alma, onde finalmente serão bem cuidadas.
Espiritualmente, esse sepultamento é libertação. Quando você decide encerrar esse vínculo interno, corta fios energéticos que drenavam sua força, sua fé e sua capacidade de receber o novo. Você devolve ao outro o direito de seguir o próprio caminho, e devolve a si o direito de recomeçar. O luto é real, dói, dá vontade de voltar atrás, mas é nesse ato de coragem que a vida entende que você está pronto para relações mais verdadeiras.
Sepultar alguém vivo em você é uma espécie de renascimento. É dizer em silêncio: eu agradeço o que foi, aceito o que não é mais e abro espaço para o que ainda pode ser. Depois desse gesto, a alma para de mendigar migalhas emocionais e volta a se lembrar do próprio valor. Então, pouco a pouco, a paz entra, a dor se reorganiza em aprendizado e o coração descobre que nunca esteve sozinho, apenas precisava escolher, de uma vez por todas, estar ao lado de si mesmo.

