terça-feira, 4 de julho de 2017



                    MACACOS ME MORDAM




Pensando na morte da bezerra, em madrugadas insones nas quais toda sorte de elucubrações assaltam a mente, sutis como macacos em loja de cristais, por mais que tente racionalizar e me policiar, não tem jeito : as coisas sempre parecem mais sombrias, os questionamentos implacáveis, as preocupações mais fundas.

Menos mal, penso eu, que me atormentem mais os desafios futuros do que as águas passadas. Por exemplo, se vou ter capacidade, condições e saúde para tocar a vida e concretizar os projetos pendentes. 
Não que tenha deletado as coisas passadas, longe disso, não canso de dizer que encaro as lembranças como meu bem mais precioso, graças a memória seletiva que me permite manter a saúde mental em dia.    
No mais, me considero um cara sortudo por ter contado com o suporte da família para segurar a barra nas horas difíceis, nos malogros e maluquices que pavimentaram minha inglória jornada nas quebradas desse mundaréu, como dizia nosso esquecido e subestimado Plínio Marcos. 
Uma família que, a contragosto e para meu desgosto, na prática se reduziu drasticamente no decurso dos anos.

Mas não me queixo. Mesmo o que não logrei obter no sentido material, foi largamente compensado pelas dádivas que ainda hoje usufruo. Escorado na doce ilusão de que nem tudo na vida é finito, me consola o fato de que as coisas que sempre me foram tão caras, mesmo reduzidas a mera sombra do que foram, continuam a ocupar lugar cativo em meu coração. Com a salutar diferença de já não serem condicionantes e obsessivas como antes. 

Já meus filhos, que ironia ! Criei-os com tanta amor e desvelo, e provavelmente se tornaram tão melhores do que eu, que fiquei muito aquém de seus elevados padrões e expectativas. 
Macacos me mordam...  






 

   



   



segunda-feira, 3 de julho de 2017



                          MEL E FEL





Amar sem ser correspondido, que tragédia !
Dar sem nada receber em troca, que sacanagem !
Confiar, ser correto, honesto, que otário...

Sou um pária nesse mundo cão.
Não tenho medo de bandido, nem de cara feia.
Não me surpreendo com falsetas e crocodilagens,
de resto modus vivendi hoje em dia.
Quem não tem estômago que não se estabeleça.
Aliás, nem saia de casa.
Sou casca de ferida, unha de cavalo.
Não levo desaforo para casa.
Não faço questão de agradar ou posar de bonzinho.
Sou o que sou.
Um fodido nesse mundo cão.

Só tenho medo de mim mesmo.
Dos gestos intempestivos e trensloucados.
Do fogo nas vestes
que inexplicavelmente às vezes ponho.
Do mel e fel que adoçam e amargam meus dias
me levando do céu ao inferno
quando me aconchego em teus braços
e te apunhalo pelas costas...

(ESCRITOS DE ALCOVA, MEADOS DE UM ANO QUALQUER)

sábado, 1 de julho de 2017




                        FANTOCHES TOGADOS




De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo. O conhecido axioma da impagável cartilha de Murfhy parece ter sido inspirado no Brasil. E mais especificamente, nos três poderes constituídos que governam e regem os destinos do país. Digo governam e regem como força de expressão, pois a realidade é que se há algo que essa casta de ratazanas encastelada no poder está longe de fazer, é governar e reger. 
Há anos, quiçá décadas, que a principal ocupação na capital mundial da corrupção e promiscuidade tem sido, engendrar e escamotear os mais variados esquemas de rapinagem lesa-pátria que se possa imaginar. Governar e reger só na base do faz de conta.

Os poucos imbuídos de bons propósitos acabam sendo levados de roldão pela maioria de cleptomaníacos que se perpetuam e se locupletam no poder. Um círculo vicioso que se mantém graças, em parte, a leniência de leis elaboradas em causa própria, mas, sobretudo, pela boa fé, para não dizer ignorância, de parte substancial da população. Que mesmo ludibriada e saqueada, segue defendendo e idolatrando os responsáveis pela sangria desatada que inviabiliza e envergonha o país. 

Sim, pois se protestar contra um governo ilegítimo e igualmente corrupto faz todo o sentido, fazer disso um pretexto para desagravar, ou pior ainda, clamar pela volta de Lula e da praga do petismo, é uma dessas aberrações que sepultam qualquer crença e esperança num possível amadurecimento do país.

Ainda mais que a parte sadia da sociedade, por assim dizer, se limita a assistir passivamente a resiliência com que as forças do mal aos poucos começam a minar as duras, sofridas e heroicas conquistas da Lava-Jato do paladino juiz Sérgio Moro.

Mais do que chocante, é revoltante constatar a diferença de postura de magistrados que em tese, deveriam servir ao mesmo propósito de fazer justiça. Mas não a justiça marota das deliberações claramente dúbias e cavilosas, disfarçadas na retórica empolada e confusa que nos habituamos ouvir, notadamente dos notórios Gilmar Mendes e Marco Aurélio Melo. Juízes execrados pela opinião pública pelo retrospecto de decisões questionáveis, quando não no aspecto legal, no âmbito da decência e moralidade.

Que chegam a causar asco pelo descaso para com o chamado clamor popular. Voz que a própria presidente da Suprema Corte, Cármen Lúcia, exortou, em meio às últimas burlescas sessões, que não fosse ignorada pela casa que preside. Mas para o qual os notórios chicaneiros Marco Aurélio, Mendes e o próprio Fachin - que autorizou o homem da mala Loures a trocar o xadrez pelo conforto da prisão domiciliar  -, demonstram estar pouco cagando.

Personagens, enfim, que diferentemente do paranaense Moro, passam para a história como verdadeiros fantoches transvestidos de juízes.        

quinta-feira, 22 de junho de 2017



                BOCAGE, ME ACUDA !






As coisas belas que gostaria de cantar,  sinto dizer
Não me ocorrem, não me animo a compartilhar.  
Por mais que tente e me ponha a pensar
São tantas as mazelas que não há como ignorar.

Infames crimes de lesa-pátria ferem a nação.
Jorram e fedem como esgoto a céu aberto
Emanadas de homens públicos que por décadas 
Legislam em causa própria e desdenham da população.

Milhões de desempregados num país lesado 
à mercê de um bando de trambiqueiros e vendilhões
Que fazem o que bem entendem e debocham da justiça.

Uma nação desenganada por lideranças 
E formadores de opinião que não passam de rufiões
Cantar o quê ? Cantar para quê ? 
Bocage, me acuda !






domingo, 11 de junho de 2017

                          
                        COMPOSTURA ÀS FAVAS






Quanto mais eu penso, mais me convenço da inutilidade
da fruição intelectiva, estética e não modificante do visionarismo vulnerável à inabdicada independência e severa lucidez da peroração oculta e presciente. Previsionais e simbólicas, nada me acrescenta o equívoco das aparências estoica e irreprimivelmente aventadas na contemplação onírica e refratária que o metaforismo espaventoso oblitera.  
Da mesma forma, aporrinha-me a ociosidade de especular sobre a profusa possibilidade de contradições e malabarismos provenientes da formulação de premissas cuja fixidez dificulta qualquer interpretação comodamente garantida e certa, e onde a chocarrice e a pseudo-complexidade da ideação abrem banca ao sensacionalismo lato e contemporizador que rege as teorias das abstrações recidivas e recalcitrantes.      
Razão pela qual, contrapõem-se a tal raciocínio toda a comparticipação, comunhão ou entendimento possíveis e meramente protocolares e dispensáveis, na medida que inevitáveis e alheias a sua referenciação coercitiva. 

Quanto mais eu penso, mais me convenço da estultície de questionamentos sobre generalidades que aceitamos como evidentes e seguras para contestar os desdobramentos ideologicamente combatidos e de multiforme representação.
Isso que, por mais que o objetivo que se pretenda e se consiga, mercê do esforço de juízo que permeie o livre-arbítrio, este não pode nem deve ser preconcebido nem fixo.  Impõe-se, isso sim, a necessária e útil exegese do exercício vivo de a exprimir, como ato determinante e decisivo que liga o criador a sua obra, emulada em breves abstrações de perspectivas e hipóteses que levam até o limite do intersecionismo transcendental.

Tudo bem que perfazendo-se, dentro da existência do indivíduo, que os foi a todos a ilusão de uma suficiente diversificação autônoma, e cuja conclusão, irrefutável e certa,  é o suporte de uma pluralidade de monólogos com suficiente imagística diferenciadora, negando-se assim viabilidade até para si próprio e sua dúvida.
Fica-nos, portanto, o consentido direito à devassa pública, o artificialismo do processo inútil - quem sabe, afinal ?,-  da própria banalidade e a compreensão de certo tipo de mentores decretadores de juízos absolutos aqui desmentidos. 
Com as ideias assim dispostas - e não obstante a vacuidade e higidez de um ideário crispado pela própria irrelevância da opinião pública -, só resta concluir que qualquer decifração minimamente lúcida, há de associar o cenário burlesco vigente no país aos proficientes membros da Suprem Corte tupiniquim. Cujas intervenções, pareceres e sentenças nem sempre correspondem aos anseios por justiça e moralização acalentados pela população.

Porque vamos e venhamos, agora no jargão popular : é preciso ser muito escroto para livrar a cara dos bandidos que roubam e zombam do país, escudados por salvaguardas e manobras de bastidores espúrias e inaceitáveis.        
Ou seja, retórica à parte e compostura às favas, estamos fodidos e mal-pagos. 
























sábado, 10 de junho de 2017

                                 CADÊ A BULA ?


                                                   
O que é pior : deixar de se importar
ou deixar de ser importante?
Deixar de amar ou de ser amado ?
Deixar ficar ou deixar de ficar ?

O que é melhor : ser bom ou ser justo ?
Ser realista ou sincero ?
Ser politicamente correto ou coerente consigo próprio ?

O que é mais fácil : fazer o certo ou o mais cômodo ?
Mentir por uma boa causa ou botar o dedo na ferida ?
Criticar ou compreender ?

O que contribuí mais para nossa felicidade : o bolso ou
a imaginação ? 
A dimensão objetiva da posse material ou 
a dádiva intangível da fantasia ?
A noção de que tudo teu seu preço 
ou a fé cega de poder domar o curso natural das coisas ?

O que é mais tolo :  esperar por reconhecimento e gratidão ou acreditar em afeição desinteressada ?
Confiar cegamente ou ignorar o óbvio ululante ? 
Perdoar incondicionalmente ou fazer vistas grossas   ?

O que é mais certo :  investir tudo em nossas
discutíveis aptidões e sabedoria ou 
deixar o barco correr ?
Ser feliz por fazer ou
em paz ao deixar de fazer  ?
Saber de tudo e sofrer ou 
ignorar e viver ?

Saber ou não saber, ser ou não ser,  
não sei, 
ninguém sabe.
Deus quando fez o mundo
esqueceu de fazer a bula.




 



















  






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