O EXEMPLO DE QUÍRON
Coração exaurido, empedernido,quixotescamente destemido,tendo se tornado com o tempo mais ponderado e maduro,
pensei fazer-lhe um favor ao deixá-lo em paz.
Mas eis que, ao contrário,
como um cavalo alado, centauro desgarrado,
ao invés de aquietar-se,
engendra quimeras e fantasias
como os sonhos de um doente.
Assim como o corpo cansado
padece com os fardos da vida,
a alma também se verga diante do peso
das aspirações e paixões
que já não consegue carregar.
Todos os dias nos conduzem a morte.
O último passo ao cadafalsoé apenas questão de tempo.
Há os que, de pavor, antecipam a mão do carrascoe morrem aos poucos quando abdicam de viver.
Outros tratam de tirar proveito enquanto podem,sem preocupações demasiadas,cientes de que cada dia é igual a outro qualquer,até deixar de ser.
O mesmo sol, a mesma lua, as mesmas estrelas
que nos contemplam desde os primórdios,
é que permanecem,
independentemente do que fomos,
do que fizemos.
Coisas boas ou más
Tudo perece e renasce. Parte e se refaz.
O sentido da vida não está na extensão,
mas em sua essência.
De nada vale viver muito e nada fazer.
Mirem-se no exemplo de Quíron,
que recusou a imortalidade
em troca de um legado nobre
e uma morte tranquila.