sábado, 17 de fevereiro de 2018


                  ESFINGE  
                   


A falta de viver paira-me como um amontoado
de livros não lidos.
A falta de interesses distrai-me o caleidoscópio 
de sensações não vividas.
A falta de vontade traduz o estio que me habita,
como se a alma dormisse.
A falta de querer, imerso em mim próprio,
basto-me. 

A falta de saber confunde-me como um espelho quebrado.
A falta de luta, conquistas, feitos épicos, condena-me a mediocridade.
A falta de viver entorpece-me a alma. 
É como se me faltasse a indignação dos fortes,
A temperança dos nobres.
A resiliência dos grandes.


Tornei-me uma esfinge perante as coisas 
que me faltam e oprimem. 
A revel das interações confusas, colho fracassos 
feitos de cansaços e falsas renúncias.
Nos quais me protejo do peso de coexistir 
com os outros.







                                                                          REDUCTIO AD ABSURDUM




No jogo da vida, ganhar ou perder é o de menos.
Faz parte, acontece.
Perde-se aqui, ganha-se acolá, e vice-versa.
Tudo serve de aprendizagem.
Que por maior que seja, sempre fica devendo.
Nunca é o suficiente.
Na acatalepsia que vivemos,
na ficção que criamos,
a única atitude digna é a da renúncia

Renunciar por altruísmo.
Renunciar por amor.
Abdicar por causa justa.
Reconhecer as próprias limitações.
Espectador e antípoda de si mesmo.
Reductio ad absurdum na catarse da vida




sábado, 10 de fevereiro de 2018


                   A FÉ QUE SE AGIGANTA



Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna manter o ânimo, a disposição e a própria fé diante de tudo que a vida vai inexoravelmente nos subtraindo. 
Não é sem um esforço contínuo e alto grau de resiliência para não fraquejar e sucumbir à depressão e a vicissitudes piores ainda. 
Como quando somos surpreendidos por uma dessas enfermidades traiçoeiras, herdadas ou compulsoriamente adquiridas à revelia da sorte, deixando tudo de cabeça para baixo, sem que nada possamos fazer senão lutar com todas as forças, agarrar-se a fé que se agiganta, em cada elo representado pelo apoio e a solidariedade dos entes queridos, de amigos e até de estranhos, quiçá anjos que velam por nós.
Só quem passa ou passou por provações semelhantes para saber o quanto representa ter o carinho e o conforto que, nessas horas, impede que o sentimento de abandono e revolta se transforme em desânimo e desespero. 
Daí nunca ser demais renovar as palavras encorajadoras e otimistas aos que se encontram à beira do abismo. Pois podem fazer a diferença. A força do pensamento não deve ser subestimada. A fé pode não mover literalmente montanhas, mas com certeza, ilumina e nos fortalece na cruzada contra as provações e dificuldades que pavimentam a estrada da vida. 
    


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018




Quem se liga demais em beleza e aparências, lembre-se : nem só de rosas é feito o jardim. 












                                    utopia  





O ideal seria que o afeto não viesse 
num pacote de expectativas e cobranças 
que desfiguram e desvirtuam o seu sentido.


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Sejamos sinceros : há momentos na vida de um homem  em que só mesmo recorrendo aos serviços de uma puta.  Que nada espera, nada exige, além ...