segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018





          O INFERNO É AQUI 
(em quatro atos)


                  1.

Minha noite é insone
Meu dia atribulado
À noite é meu nêmesis 
De dia apenas sigo ordens 
Simples peça da engrenagem
Programado para obedecer
E toca o cliente atender
Que a fila precisa andar
Os rostos se sucedem, contas, carnês
passam pelo meu caixa 
Tudo passa pelo banco
Todo o dinheiro do país, a merreca
dos aposentados
Vai aí um crédito consignado ?

                    2.

Sou lojista, motorista, garçom, pedreiro
Ou qualquer outra coisa 
Mero serviçal que não pensa 
Apenas faço o que me mandam 
De dia me viro nos trinta
à noite rolo na cama 
Isso é vida ? Trabalhar como um condenado
Engolir sapo, humilhação 
Por uma miséria de ordenado ?
Os dias passam e nada acontece
Mas podia ser pior
Quem mandou não estudar ?
                       
                         3.

Estudar, bem que eu quis
Mas faltou escola, faltou dinheiro
Arrimo de família, cedo fui pra rua
Para arrumar qualquer trocado
Como flanelinha, pedinte
trombadinha...
Que vida é essa, meu Deus ?
Na maloca em que moro, com minha mãe
alcoólatra e viciada
Meu pai nem sei quem é 
A noite chega e eu de barriga vazia
Meus irmãozinhos choramingando de fome
Pela frente, mais uma madrugada insone
O inferno não poderia ser pior...
             
                         4.

 Queria ser jogador de futebol
Até tentei, mas na peneira não passei
Fiz letra de funk, mas não rolou
Sem emprego, sem futuro
Só traficando me dei bem
Por quanto tempo, não sei
Provavelmente, muito pouco
Provavelmente, sem final feliz
Mas quem, em sã consciência
Pode me condenar ?




sábado, 17 de fevereiro de 2018


                  ESFINGE  
                   


A falta de viver paira-me como um amontoado
de livros não lidos.
A falta de interesses distrai-me o caleidoscópio 
de sensações não vividas.
A falta de vontade traduz o estio que me habita,
como se a alma dormisse.
A falta de querer, imerso em mim próprio,
basto-me. 

A falta de saber confunde-me como um espelho quebrado.
A falta de luta, conquistas, feitos épicos, condena-me a mediocridade.
A falta de viver entorpece-me a alma. 
É como se me faltasse a indignação dos fortes,
A temperança dos nobres.
A resiliência dos grandes.


Tornei-me uma esfinge perante as coisas 
que me faltam e oprimem. 
A revel das interações confusas, colho fracassos 
feitos de cansaços e falsas renúncias.
Nos quais me protejo do peso de coexistir 
com os outros.







                                                                          REDUCTIO AD ABSURDUM




No jogo da vida, ganhar ou perder é o de menos.
Faz parte, acontece.
Perde-se aqui, ganha-se acolá, e vice-versa.
Tudo serve de aprendizagem.
Que por maior que seja, sempre fica devendo.
Nunca é o suficiente.
Na acatalepsia que vivemos,
na ficção que criamos,
a única atitude digna é a da renúncia

Renunciar por altruísmo.
Renunciar por amor.
Abdicar por causa justa.
Reconhecer as próprias limitações.
Espectador e antípoda de si mesmo.
Reductio ad absurdum na catarse da vida




sábado, 10 de fevereiro de 2018


                   A FÉ QUE SE AGIGANTA



Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna manter o ânimo, a disposição e a própria fé diante de tudo que a vida vai inexoravelmente nos subtraindo. 
Não é sem um esforço contínuo e alto grau de resiliência para não fraquejar e sucumbir à depressão e a vicissitudes piores ainda. 
Como quando somos surpreendidos por uma dessas enfermidades traiçoeiras, herdadas ou compulsoriamente adquiridas à revelia da sorte, deixando tudo de cabeça para baixo, sem que nada possamos fazer senão lutar com todas as forças, agarrar-se a fé que se agiganta, em cada elo representado pelo apoio e a solidariedade dos entes queridos, de amigos e até de estranhos, quiçá anjos que velam por nós.
Só quem passa ou passou por provações semelhantes para saber o quanto representa ter o carinho e o conforto que, nessas horas, impede que o sentimento de abandono e revolta se transforme em desânimo e desespero. 
Daí nunca ser demais renovar as palavras encorajadoras e otimistas aos que se encontram à beira do abismo. Pois podem fazer a diferença. A força do pensamento não deve ser subestimada. A fé pode não mover literalmente montanhas, mas com certeza, ilumina e nos fortalece na cruzada contra as provações e dificuldades que pavimentam a estrada da vida. 
    


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018




Quem se liga demais em beleza e aparências, lembre-se : nem só de rosas é feito o jardim. 












Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...