sábado, 8 de dezembro de 2018


                lobos ou cordeiros ?


 


marcham os soldados, 
marcham redondinho, sincronizados, 
feito robôs, réplicas de si mesmo.
serão de verdade esses
soldadinhos chineses, russos, norte-coreanos ?
tudo com a mesma cara ? 

hoje como ontem, exércitos milenares submetidos
a comandantes inescrupulosos e sanguinários,
com seus artefatos de fazer guerra,
em quintais alheios.
cidades, povos dizimados,
no réquiem lúgubre de imolações.
máquinas de matar à serviço 
de tiranos e degenerados.
o que o poder não faz com as pessoas... 
em animais os transforma.
em bestas-humanas cujo prazer é ver o sofrimento
alheio.

a marcha dos soldadinhos encanta.
a multidão aplaude.
o mundo se admira, ante tal demonstração
de poder e obediência.
poder e obediência.
devemos obediência a bestas-humanas ?
a imbecis investidos de autoridade,
que eventualmente assumem o poder ?
a força, por força de dinastias ou ungidos pela própria
população ?

os soldados marcham, seguem ordens.
são obrigados a seguir ordens.
mesmo esdrúxulas, mesmo suicidas.
pelo bem comum, em defesa da pátria.
todos súditos, todos inocentes-uteis. 
milhões morrem para que outros vivam.
morre-se em guerras, morre-se de fome.
há gente demais no mundo.
dementes demais.
ser normal é uma aberração.
os cordeiros de Deus pagam pelos pecados 
do mundo.
um Deus que está pouco se lixando para eles.

Deus não existe, do jeito que se concebe.
Deus está em cada um de nós.
deuses interiores que moldamos
por nossa própria força mental.
acredite piamente numa pedra, 
reze, concentre-se nela, 
e a resposta será a mesma
que encontrará num templo qualquer
erigido por rufiões e oportunistas.

somos o que pensamos 
somos o que queremos ser
senhores de si ou súditos.
Lobos ou cordeiros.





























  

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018





na parede da memória, 
a tua lembrança 
é o quadro que me dói mais... (belchior)
                 

                              viver é preciso





A vida é o tudo que em nada desagua,
posto que num piscar de olho tudo acaba.

O mesmo sol brilha para todos,
mas brilha mais para alguns.

Deus está em tudo, e não está em lugar algum.

Existir, fazer valer a pena.
Que lhe baste o que lhe basta.

Cumpre contra o destino, o teu dever.
Desertar não é uma opção.

Sonhos. Há que tê-los. 
Ainda que poucos consigam realizá-los.

Instintos. Há que ouvi-los.
Visto que a paixão cega, 
o coração se engana,
e a razão cala.

Mágoa ? Remorso ? Arrependimento ?
Releve. Não há como saber.
Pior é não tentar.
Não arriscar.










                                         a espera




Viver a espera do que nunca virá.
Daquilo que se tinha e se perdeu.
Do que era para ter sido e não foi.
E que nunca será.
Posto que abortado antes de acontecer.

Viver a espera do que nunca virá.
O amor que se tinha.
O amor estupidamente perdido.
De lembranças inflamadas pela espera. 
Do passado que não conhece o seu lugar, 
como em Quintana. 

Viver a espera do que nunca virá.
De compreensão, consolo, perdão.
O ressentimento alimenta a impiedosa memória.
A redenção condicionada ao que está fora de nosso alcance.
Como a esperar que Lázaro saia da cova.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

             

            a turma da malandragem

Há a turma do futebol
a turma do futivolei
a turma da prancha
a turma do patins
a turma da corrida
a turma da bike
a turma do dominó
a turma do funcional
a turma da raquete
a turma dos farofeiros
a turma dos maconheiros (imensa)
a turma do levantamento de copo (idem)
a turma dos andarilhos
a turma do caniço 
a turma dos marombeiros 
a turma dos babás de cachorro 
há turmas de tudo que tipo
há turmas para todos os gostos
santista adora se enturmar
tem até a turma dos solitários
por sinal, minha turma preferida;

à espera de vaga na turma da malandragem...







a turma do caniço





                                       a travessia

                    


Na tragicomédia em que se transformou minha vida, o último capítulo está me deixando encafifado, com a pulga atrás da orelha. Não sou de me impressionar facilmente, cético como a vida me levou a ser, mas o que vem se passando comigo na madrugada dos últimos três dias, é no mínimo perturbador. 

Imagine que mais ou menos no mesmo horário, entre 3 e 3,30 horas, venho tendo um sonho recorrente com meu falecido pai. O enredo não recordo bem, mas chega um momento em que a figura de meu pai aparece, em meio a uma névoa, vestido com uma espécie de túnica, e sua presença faz meu coração disparar. 
Sinto uma espécie de sufocamento e choro convulsivamente, ao que ele, sem dizer uma palavra, apenas com o olhar sereno e gestos tranquilos, me passa uma sensação de paz que imediatamente me acalma e alivia. 

Acordo em seguida, ainda com o rosto molhado de lágrimas, e entre emocionado e atônito, fico a me perguntar o significado disso. Três noites seguidas o mesmo sonho, alguma coisa certamente quer dizer.

Como minha extra-sistóles anda novamente dando seus pinotes, mormente à noite, quando as preocupações e amarguras afloram a todo vapor, talvez seja um modo de meu cérebro me acalmar, trazendo de volta a figura de meu amado pai. Ou quem sabe seja o espírito dele mesmo, vindo me preparar para a travessia que se avizinha.

Ainda é cedo, meu velho, mas se tiver que ser, que alegria não seria tê-lo a minha espera para uma nova vida.  




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