segunda-feira, 18 de março de 2019


                  
          UMA CERTA MANHÃ DE DOMINGO


Não foram poucas as vezes em que pensei seriamente em parar com esse blog. Não digo de escrever, porque não consigo. Não só porque gosto, mas porque preciso. Hoje em dia muito mais como antídoto e terapia do que hobbie. Adoraria ganhar a vida escrevendo, mas nem em sonhos. Para começar, nem sei se o que escrevo tem algum mérito ou qualidade literária.
Escrevo para extravasar o oceano de sentimentos e emoções que me acorrem constantemente. Tanto que às vezes receio que o coração não aguente. Às vezes acordo de madrugada com as ideias  martelando na cabeça. Lembranças, insights, até cheiros eu sinto, imagina, um dia acordei sentindo um aroma de mato de quando ainda era molecote, e vivia solto como bicho pelos arrabaldes de minha cidade natal, Cachoeira do Sul.
São tantas coisa que me vêm à cabeça que se não pudesse por para fora, não sei o que seria de mim. E como praticamente não tenho amigos com quem conversar, nenhuma outra distração que não seja andar, andar, andar, escrever é só o que me mantém são. 
Criei o blog há 4 anos, depois de muita relutância e adiamentos, e até mesmo porque à época era colaborador assíduo do site Observatório da Imprensa, do conceituado Alberto Dines, tendo quase 100 artigos lá publicados. Com o afastamento do velho mestre e a mudança da linha editorial, parei. Foi quando apelei para um blog. 
A princípio, sem saber qual o formato e conteúdo. Se na mesma velha linha jornalística ou algo mais pessoal, onde pudesse resgatar o antigo gosto pela poesia, por exemplo. 
A segunda opção veio ao natural, principalmente depois que minha vida sentimental entrou em colapso. Um drama silencioso, que fui remoendo, que foi me consumindo por dentro, a medida que via o barco afundar, indiferentemente a meus gritos de socorro e alerta. E deu no que deu, prefiro não entrar mais em detalhes, mesmo porque meus escritos falam por mim.
Escritos, como já disse, que volta e meia ainda penso em parar de postar, deixá-los apenas como rascunho, para não me criar mais problemas, machucar as pessoas, principalmente uma certa pessoa, que inspirou grande parte do que escrevi. E que pelo visto jamais me perdoará. Mesmo não entendendo que jamais quis ofender, e sim, abrir os olhos, chamar a atenção. Mexer com o coração. Infelizmente não consegui, o que me leva a questionar ainda mais a validade de manter esse blog aberto ao público.

Mas há compensações. Poucas mas lindas compensações. Quando eventualmente consigo despertar alguma emoção, mexer com os sentimentos, tocar o coração de alguém. 
Como aconteceu ainda ontem, com alguém que eu jamais esperaria, pela pouca idade, pela natural incapacidade de entender escritos nem sempre inteligíveis, de fácil compreensão. Meu filho Breno, de 12 anos, que veio passar mais um adorável fim de semana comigo.
Enquanto ela dormia até mais tarde, e eu escutava música, senti um impulso irresistível de botar no papel - e digo botar no papel porque é onde primeiramente esboço as ideias -, algo que nem eu tinha noção no que iria dar. E que, por isso mesmo, começou de um jeito, e foi dar em outro totalmente diferente. E surpreendente até para mim.
Uma homenagem, um tributo, uma evocação antiga e dolorida à meu pai, falecido há dez anos. Escrevi como se estivesse psicografando. Sem maiores preocupações com estilo, formato. Fui escrevendo até sentir que tinha posto para fora tudo o que me agoniava. Que me machuca muito, desde que ele se foi.
Meu filho acordou, ficamos vendo um jogo na TV, ele mexendo ao mesmo tempo com o celular e computador - incrível esse geração multimídia -, foi quando num estalo pedi sua opinião para o texto sobre meu pai. 
"Lê aí, é sobre o vô Berger, e me diz o que acha".
"Ok".
Deixei-o na sala por alguns instantes,  fui à cozinha passar um café, e dali há pouco ele passa rapidamente em direção ao banheiro. Ri intimamente do repentino aperto. Já estava estranhando a demora quando voltou. Sentou-se sem dizer uma palavra, disfarçou, mas com uma evidente carinha de choro, vi que tinha algo errado. 
"O que houve, filho ? Tá sentindo alguma coisa ? Foi o que escrevi ?"
Foi só falar e ele desatou a chorar convulsivamente, como nunca havia visto. Nem preciso dizer que cai na choradeira também. Os dois abraçados ali, em plena manhã de domingo, nunca fomos tão pai e filho. Nunca o senti tão próximo. Posso jurar que senti o espírito do meu pai ali com a gente. 
Obrigado meu velho, te devo mais essa. 













domingo, 17 de março de 2019




                    PERDÃO, MEU PAI


Tudo bem, aqui se faz, aqui se paga.
Colhemos o que plantamos. 
Mas o problema é que nem todas as sementes vingam.
A terra tem que ser boa.
Plantar no tempo certo.
E dar sorte.

Meu pai, não por ser meu pai, 
a melhor pessoa que já conheci,
começando a vida, lá pelos idos de 50, 
arrendou terras no interiorzão gaúcho, 
fez empréstimo no Banco do Brasil. 
Recém casado, cheio de gás, 
nos seus 20 e poucos anos, foi plantar arroz.
Meses de trabalho, no cu do mundo, a bem dizer,
morando num casebre, com minha mãe e este que vos fala,
com 2 ou 3 anos, 
incrível que ainda lembre de tantas coisas.
Como quando o rio Jacuí que tanto amávamos, 
em que pescávamos e nos banhávamos, 
subiu da noite para o dia.
Chuva que não parou por dias à fio,
invadiu nossa casa.
Acabou com alqueires e mais alqueires de plantação.
Tudo debaixo d'agua.
Ainda lembro perfeitamente,
ainda sonho com o barulho da chuva intermitente
no telhado de zinco do galpão em que ficamos ilhados.
No alto da coxilha, tendo trator, arados, colhedeiras, 
sacos de sementes, sapos e grilos como companhia. 
Ah, sim, e de um casal de corujas 
encarapitadas no alto do telhado,
e cujo lúgubre piado à noite era a única coisa 
que me metia medo.
Impressionante ainda lembrar disso e de tantas outras coisas,
relacionadas ao trabalho incansável,
às andanças do meu pai. 
Sem nunca abandonar a família, embora as constantes ausências,
por conta do ofício de vendedor que acabou abraçando,
depois do fracasso como agricultor.

Fracasso ? Retiro o que disse. 
Nunca, jamais, em tempo algum meu pai conheceu algo parecido. 
Honesto até o último fio de cabelo.
Ativo, sempre de bom humor, não havia quem dele não gostasse.
Ajudou um monte de gente, como vendedor de uma grande empresa de material de pesca, 
avalizava ele mesmo as compras daqueles que estavam sem crédito, 
Algo comum num ramo filho da puta como a pesca. 
Em que, igual a agricultura, um dia se tem, outro dia a própria natureza leva tudo.

Ah, meu pai, como me dói te-lo incentivado a entrar no ramo da pesca,
e comprar um barco, o imponente Asa Branca.
Que logo na primeira viagem, bateu num navio no porto do Rio Grande...
E nunca mais as coisas foram as mesmas.
Me perdoa, porque eu nunca consegui me perdoar.
Tanto que mesmo depois que partiste, 
ainda penso nisso, ainda me remoo por dentro.
Como agora,
que comecei a escrever uma coisa
e acabou dando nisso : um incontido
desabafo de remorso e culpa.
Um tardio pedido de perdão.






            
                      
                  TCHAU, QUERIDA


          

EU TENTO
          ELA FINGE
EU FAÇO
          ELA ENGANA
EU ABRO O JOGO
          ELA ESCONDE
EU ACREDITO
          ELA MENTE
EU PEÇO
         ELA NEGACEIA
EU QUERO
         ELA ENROLA
EU INSISTO
         ELA TAPEIA
EU FALO
         ELA INVENTA
EU OTÁRIO
         ELA TRAPACEIRA
EU DESISTO     
               ELA ME ENFEITIÇA
EU VOLTO
        ELA NÃO MUDA
TCHAU, QUERIDA,
        DESSA VEZ, CHEGA !


sábado, 16 de março de 2019




                    A SINOPSE DO ABSURDO





A impressão                         A compressão
A imprecisão                        A pressão
A catalepsia                         A sinestesia
O destampatório                  O crematório          
O espavento                         O catavento
A tormenta                           O firmamento
A alegoria                             A teogonia
A vaca fria                            A supremacia
O escaninho                          O descaminho
O saci-pererê                        A matita-terê
A rapadura                            A sinecura
A cicuta                                 O filho da puta
A limonada                            A presepada
A sucata                                O vira-lata
A truta                                   A fruta
O semáforo                            O fósforo
O caramanchão                     A tesão
A sesmaria                             A Ave Maria
O pífaro                                 O pássaro

Pássaro com o ramo no bico
De onde vieste
Porque voltaste
E sinal de vida trouxeste
Porque ? 
Melhor seria à Arca não retornar
À deriva deixar
A Criação à sua origem voltar
Tudo zerar
Para Deus repensar
A merda que fez
Quando o homem criou

Lúgubre pássaro noturno
Espantalho de sonhos
Não grasna, não pia, furtivo
Apenas espia
Na noite fria
Predador e vigia
Do nada bate as asas
Do nada, tudo às avessas
Onde havia vida, pouso
Desconsolo, ferida
Ora longe, ora perto
Sem repouso, sem guarida 
No bico do pássaro soturno
A desonra, o descaminho.

Corvo, abutre, mensageiro do além
Há que ler os presságios
As más ações um dia retornam
Em noites insones
Dias tenebrosos
O negrume tudo cobre
O sol    eclipse     liturgia     sinopse     carma 
                                the end      






                  SOB FOGO CRUZADO







Os vídeo-games, febre da mocidade,
simulam tiroteios, guerras, 
matanças - quem mata mais, ganha.
De repente, vítimas de verdade.

Nos meios de comunicação, 
a televisão em particular,
fake news, baixaria. 
Verdade é mentira, mentira é verdade.

Nas onipresentes redes sociais, baixo nível e promiscuidade.
Real e imaginário se misturam.
A instituição da família, em franca decadência.
O convívio humano cada vez mais precário.
Preconceito, discriminação, xenofobia recrudescem.
Os jovens sem rumo, excluídos, alienados, 
à mercê das drogas.

O amor, ah, o amor na era cibernética. 
Em tempos de watts ap.
O que dizer ? O que sobrou ? 
Amor romântico, fidelidade, ainda existem ? 
Ainda resistem ? Até quando ? 

Amor conspurcado, adulterado.
A humanidade, sob fogo cruzado.
Para onde caminha ?   

sexta-feira, 15 de março de 2019

                   

                              A CORJA





A corja é grande.
A corja é poderosa.
Tomou o país de assalto.
Assalto à mão armada é o de menos.
É café pequeno,
perante a sistêmica tunga aos cofres públicos.
Em todos os níveis possíveis e imaginários.
De cabo à rabo, numa conjuntura de longa
data engendrada 
para encher as burras dessa gangue que
infesta os três poderes da Nação. 

Nação fodida e mal paga.
Fodida e mal paga.
Fodida e mal paga.

A corja é grande, a corja é eclética, especializada.
Uma confraria, dir-se-ia. 
Grande demais, poderosa demais para
ser combatida, neutralizada 
com os parcos recursos e instrumentos de um Judiciário talhado para proteger e estimular a criminalidade. 
Que tem na banda podre do STF seus defensores e patronos.

Uma corja que não vai sossegar antes de acabar 
com a Lava-Jato.
Que não vai ficar satisfeita antes de livrar da cadeia 
o ex-presidente mais sujo e corrupto da cadeia. 
E com ele, a quadrilha às duras penas enquadrada e encarcerada.
Afinal, cá como lá,
a fidelidade é a marca da Camorra tupiniquim.








                      à moda Cazuza






Do que é feito esse amor
imperfeito, 
que te ofereço ?
E que retribuis no mesmo preço ?
O que temos para dar um ao outro,
que já não houvéramos dado,
e nos quebrado ao meio.
Amor aleijado, 
espinha dorsal partida. 
Ilusões perdidas.

O que será de nós, que futuro temos ?
Você diz que me ama mas não quer
compromisso.
Concordo.
Compromisso implica em cobrança, responsabilidades,
perda de liberdade.
A pergunta que não quer calar é :
pode-se amar sem cobranças, responsabilidade,
compromisso ?
Existe amor sem cobrança, responsabilidade,
compromisso ?
Ou teremos que inventá-lo, à moda Cazuza ?

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