sábado, 6 de abril de 2019



Gosto do silêncio.
O silêncio não mente.
As coisas são como são.
Palavras distorcem, iludem.
Deveríamos ser mudos,
Posto que cegos já somos.
                            

                 mundo f.d.p.



Ser bom, generoso, solidário, nos enfraquece. 
Quando viramos reféns da falta de escrúpulos dos outros.

Nada que se faz é suficiente. 
Ninguém quer saber das motivações, 
dos sentimentos alheios.

Ninguém é confiável.
Até as crianças são manipuladas, usadas.

Mundo filho da puta, 
que te obriga a ser filho da puta 
para se dar bem
ou se proteger.

quinta-feira, 4 de abril de 2019





                           HERÓIS




Este é um tempo de heróis anônimos.
Heróis sem super-poderes, sem espada, sem cruzada,
apenas úteis. Obedientes e resilientes.  
Levantam antes do raiar do sol,
comem o pão dormido, engolem o café apressado,
de quem não pode chegar atrasado
ao trabalho, no outro lado da cidade.
Trabalho anônimo, faina diária
sem direito a um salário condizente.
Apenas o suficiente
para dar de sustento aos seus.
Labutam de sol a sol
os heróis anônimos do cotidiano.
Operando máquinas, quebrando pedra, 
atendendo os usuários, à serviço de multidões.

De mil ofícios, entre mil artifícios 
vive o herói anônimo.
Desdobrando-se, violentando-se para ser alguém na vida.
Batalhas inglórias, poucos conseguem, 
mas não por falta de esforço.
Paciência é o que não lhes falta.
Boa fé para acreditar nas eternas promessas.
Animo para torcer pelo time do coração,
brincar no carnaval, fantasiado de mulher - hay que ser macho,
pero sin perder la ternura jamás... 

Querem acreditar, querem amar, os heróis anônimos,
mas ninguém reconhece, ninguém dá valor.  
Sem outra outra opção senão dar o sangue, dar o suor,   
para a família sustentar.
A pequena vida tangenciando os objetivos maiores.
A cada obstáculo superado, outro surge, outros surgem, 
no ciclo inexorável das coisas.
Sonha em ser feliz, o herói anônimo, 
mas o mundo não deixa...

segunda-feira, 1 de abril de 2019



                                    wonderful world ? 





Passamos a vida preocupados com a imagem,
com o que pensam de nós.
Em sermos politicamente corretos.
Em defender aquilo que nos parece justo.
Os direitos humanos,
os animais,
a natureza, 
essas coisas.
Tudo de forma a passarmos por pessoas de bem,
íntegras,
cidadãos honestos, cumpridores de seus deveres.
Em tese, tudo e todos, uma maravilha,
tal qual o "What a Wandelful World", imortalizado
na soberba canção do Louis Armstrong.
Ou o "Imagine", do não menos icônico John Lennon.

Na prática, porém, é o oposto.
Um mundo convulsionado, beligerante, 
as pessoas se trucidando.
Pessoas horrorosas no poder. 
Pessoas horrorosas querendo se passar pelo que não são 
na cara da gente.
Hipocrisia imperando. Desigualdade social cada vez maior.
Uma minoria vivendo nababescamente, a grande
maioria vegetando, confinada a guetos, 
campos de concentração, 
periferias em que impera a criminalidade.
Povos submetidos ao sofrimento imposto por ditadores sanguinários,
ao roubo sistêmico e sistemático promovido por governantes e 
agentes públicos que infestam as esferas do poder.

Ora, sejamos realistas.
Wonderful world, em termos. Há que ter ciência de que 
a vida é boa, até deixar de ser.
As pessoas são boas, até deixarem de ser.
Que o mundo é uma beleza, até deixar de ser.
Tudo é de um jeito, até deixar de ser. 
Até se transformar em outra
coisa qualquer, que desconhecemos.
Tudo é óbvio, tudo é claro,
o amor é lindo, até deixar de ser.
Tudo, um dia, deixa de ser do jeito que conhecemos,
ao quê estamos acostumados.
Porque a vida é assim, tudo muda a qualquer hora,
sem aviso prévio.
O que é bom e belo hoje, amanhã deixa de ser.
Fazer o quê ?
Carpe diem, meus queridos, pura e simplesmente.
É tudo o que nos cabe fazer.









   







sábado, 30 de março de 2019



              enquanto a hora não chega 






Enquanto a hora não chega, tomo meu vinho,
bebo minha cerveja,
um cigarro de vez em quando para relaxar.

Enquanto a hora não chega, faço as coisas de sempre,
como se o tempo não tivesse passado. Mas passou,
e logo me dou conta disso.

O corpo alquebrado, o rosto vincado, a alma embotada.
E, sobretudo, a solidão, o isolamento.
O sentimento de perda. Amargura, desencanto.

Quando minha hora chegar, ninguém vai notar.
Passarão dias, meses, talvez anos, para que sintam
minha falta.
Me deem algum valor. 
Por isso, tomo meu vinho, bebo minha cerveja,
até um cigarrinho ando fumando. 
Estes e outros pequenos prazeres, 
enquanto a hora não chega.







  


                  a exaustão do amor




                         
                 


Gozo sem gemido.
Riso contido.
Carinhos sonegados.
Aconchego, nem pensar.
Tampouco atenção, interesse, 
tudo aos poucos suprimido.
O amor assim resumido,
nem sombra do que foi outrora.
Inútil procurar explicações.
Tentar entender.
Simplesmente acaba, como tudo acaba.
Em indiferença, mágoa, ódio, 
se transforma.

Por que será que as pessoas que mais amamos, 
mais nos doamos,
são as que mais nos machucam e magoam ?
As que mais nos cobram ?
As que mais nos odeiam ?

É um erro crasso
supor que o verdadeiro amor tudo perdoa, 
tudo supera.
Não supera, não perdoa,
quando muito releva.
Mas não esquece, enfraquece,
vai desmilinguido.
Até acabar na vala comum dos desamores. 

Sexo sem beijo.
Falta de assunto.
Desinteresse.
A ausência das pequenas gentilezas.
Sinais sutis de exaustão do amor.
Daí às ofensas e agressões, não falta muito.

A grandeza do amor está, também,
em saber a hora de sair de cena. 
Perder os anéis, para salvar os dedos.






 



Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...