domingo, 14 de julho de 2019


                               
                            O CÁLICE







Nunca sentirei de novo o que um dia senti
Nunca mais terei o que tive
Nunca mais as mesmas emoções, os sonhos.
Tudo foi único, inigualável.
Besteira negar só porque acabou.
Desmerecer em função de malogros de resto normais
e previsíveis
Posto que nada dura para sempre

O que não significa que não possa 
Reviver algo parecido
Igualmente especial
Em alguns aspectos até melhores
Por agora saber valorizar cada momento
Se tiver a sorte de amar de novo

Um amor diferente, mais maduro, consciente.
Incapaz das loucuras de antigamente
Mas ainda assim prazeroso e intenso
Como um bom vinho
Explorado até as últimas consequências
Sorvido até a última gota
De um cálice prestes a esvaziar
E o qual, por isso mesmo
Não posso nem quero
Afastar ou quebrar

Sempre que possível, 
Brindemos, pois, 
À vida. 
Aos recomeços.











sábado, 13 de julho de 2019



                     










                   sem meias palavras



Aqui abro meu coração. 
Conto meus segredos, meus anseios,
minhas contradições. 
Aqui é meu confessionário.
Sem direito à perdão. 
Mesmo porque não me arrependo de nada.
Hoje, não mais.
Posto que inútil,
E se errei - e errei bastante, 
também penei, fui sacaneado.

Não é à toa que estou só. 
É o preço à pagar.
A cota que me cabe nesse latifúndio.
Ao qual estou me acostumando.
E aos poucos até gostando.
Sem precisar dar satisfações a ninguém.
Agradar por agradar.
Posso ser o que eu sou.
Um farsante, há quem diga.
Não ligo.
Sou isso que mostro aqui. 
Cheio de defeitos, volúvel.  
Como aquele personagem do Garcia Marques,
o coração com mais cômodos 
que uma casa de putas..










                       deixar acontecer


Por que tinhas que ir embora ?
Estava tudo tão perfeito aqui, completo.
As horas passaram e nem sentimos.
Entre a animada conversa, o almoço dos deuses,
e o melhor sexo do mundo, o tempo voou,
Tarde se fez, por que tinhas que ir embora ?

Agora, esse vazio.
A cama desarrumada.
A louça por lavar.
A música sem graça,
depois que cantaste pra mim.
Olhos nos olhos, quase acreditei nas juras
de amor sincero.
Por que tinhas que partir ?

Sim, eu sei, precisavas ir.
Tens família, tua casa, coisas à fazer.
E eu, o que sou para ti, afinal ?
Não, não quero saber. 
Não preciso saber.
Deixa acontecer, como tu dizes.
E nesse ínterim, apenas viver.
Curtir os momentos.
Em que a ilusão de ser amado é suficiente.















quinta-feira, 11 de julho de 2019





Pior que a ingratidão e a falta de reconhecimento é cuspir no prato que comeu. Por defeitos naquilo que ganhou de mão beijada e sequer fez jus. 


           
                                             sábios de araque



                    

Não tenha certezas.
Prefira a clareza.
Certezas são sintomas de fraqueza.
Fechar-se em convicções e conceitos
quando nada é certo.
Nada é definitivo.

Das certezas que tive, 
pouco ou quase nada sobrou.
Naquilo que acreditava piamente,
nas pessoas, no amor,
quanto dissabor !
Confiar cegamente, que grande erro !
Ninguém é confiável.
As coisas mudam, mesmo o sol
que nasce e se põe todos os dias,
nunca nasce e se põe do mesmo jeito.
O que hoje se tem, amanhã não vale mais.
Não existe mais.

Nas certezas, nos refugiamos.
Nos fechamos.
Nos limitamos.
E caímos do cavalo.
Quebramos a cara.
Quando tudo se revela enganoso,
circunstancial.
Às vezes, tarde demais para consertar.

Discernimento, clareza de ideias,
eis o que é preciso buscar.
É tudo que precisamos.
Errando, reconsiderando, questionando
as certezas dos sábios de araque.






  


               nem alma, nem coração





Nada mais me pesa.
As lembranças já não fustigam.
Já não penso, nem sinto falta daquilo que
afinal, nem compartilhamos.
Os sentimentos...

Um ano se passou, e é como se tivesse renascido.
Livre de culpas e remorsos, nem tristeza sinto.
Não vale a pena.
Triste seria perder um grande amor.
A alma gêmea, uma vida plena.
Não foi o caso.

Não nos amamos o suficiente.
Da maneira certa, de peito aberto.
Nos entregamos de corpo, mas não de alma, 
muito menos de coração.





  






quarta-feira, 10 de julho de 2019




               a linguagem universal






Quantas coisas não enxergamos 
ao largo da vida.
Quase tudo.
Pois nada é o que parece.
Nada é do jeito que a gente pensa.
Vemos mas não enxergamos.

O que aprendemos nos habilita
meramente à sobreviver.
Às vezes nem isso.
Mas há que aprender.
Escrúpulos às favas, nos esmeramos
na arte de enganar.
Enganando e sendo enganados.
Esse é o jogo.

Na selva da vida, no amor,
as regras são as mesmas.
Rasteira, porrada, punhalada, 
eis a linguagem universal.
Honestidade de propósitos, 
pureza de sentimentos,
é para os incautos e otários.



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