nobre legado
Fecho os olhos e ainda vejo o rio poderoso e turvo.
Matas repletas de pássaros, os arrozais.
Meus dois cachorros, Kalu e Respeito,
anjos da guarda da minha infância.
O internato aos seis anos, as missas na igreja Luterana.
O imponente morro do Agudo ao fundo.
Bailes na colonia e adjacências, pescarias no Jacuí ,
banhos de arroio,
os primeiros namoricos.
E memoráveis férias de fim de ano,
reunindo a numerosa família dos Berger, dos Roos.
Ah, as gaitadas...
Com direito a concursos de peido, o mais fedido e o mais estrondoso...
Ah, sim, a chegada do indefectível Papai Noel - meu primo Ernani à caráter,
a molecada desconfiava mas não tinha certeza.
Luzes apagadas, apenas a enorme árvore natalina
tremeluzindo, o tannenbaum cantado assim mesmo,
em alemão.
Enfim, hora dos presentes, não sem cada um
recitar algum verso natalino, o capetinha aqui sapecando
o infalível "kleine known, grossen known, der weihnachtsmann
at der arschloch brechen".
Neim, neim, neim, se ria a não mais poder a grossmuther,
mãe, avó, inesquecível matriarca dos Berger,
com seus seis filhos, Arnaldo, o mais velho,
meu pai Engelhart, Bernardo e Orlando,
as gurias, Onira e Lolita.
Vô Rodolfo não conheci, morreu cedo, aos 56 anos, câncer no estômago.
E havia já então uma numerosa prole de netos,
hoje em dia, mais de meio século depois, também
com filhos e seus próprios netos,
dispersados por esse mundão afora,
com a sagrada missão de honrar