sexta-feira, 20 de setembro de 2019





      
     menino urbano, menino interiorano




O menino interiorano, 
quando vai pela primeira vez à cidade grande,
se assusta, no começo estranha,
mas logo se acostuma.
Se encanta com a agitação, as opções de lazer,
shoppings, fast food, parques temáticos,
sempre há o que fazer.

O menino urbano, quando vai para o interior,
logo se entedia.
Acha tudo parado, chato.
Nem repara na infinidade de pássaros, animais,
bichos silvestres.
Estranha a comida, se assusta com qualquer
inseto, implica com o coaxar dos sapos, 
do cricrilar dos grilos.

Recentemente, levei meu filho adolescente 
para conhecer minha terra natal, 
rever a família, no interior
do Rio Grande do Sul.
Lugarejo pequeno, devagar quase parando, 
fui logo avisando.
Estranhou, é claro, ainda mais sem Internet, 
pensa em alguém mal-humorado...
Fez cara de enfado diante das belíssimas paisagens, 
dos recantos paradisíacos ainda quase intactos.

Relutantemente, andou à cavalo, mas adorou pescar,
até uns lambarís conseguiu fisgar.
Encantou-se com os riachos e as cachoeiras, mas
abriu mão da melhor parte : achou a água muito fria.

Ah, esses meninos urbanos...
Tão valentes e destemidos à frente de seus games
e joguinhos letais, 
mas na roça,
na vida verdadeira,
correm até de um simples garnizé...


































quinta-feira, 19 de setembro de 2019



                                           um pingo de fé






Irmão, mano, brother
presta atenção.
Se acha que as coisas vão fluir, acontecer,
não vão, não.
Se pensa que alguém vai te dar a mão, espera sentado.
Só se for para te afundar.
Jogar pedras.

Irmão, mano, brother
Se acredita que vão te entender,
ver o teu lado, esquece.
Vão é meter  o sarrafo.
Pisar em cima, tripudiar.
Bem feito, dirão, lavando as mãos.
Se imagina que, com o tempo,
as coisas vão melhorar,
as pessoas te tratarem melhor, te valorizar, etc e tal,
pode tirar o cavalo da chuva.
Vão é te menosprezar, difamar.
Não esqueça, quem julga, julga pelo que é,
e não pelo que VOCÊ É.
Sob padrões que nem Jesus Cristo se salva, 
quanto mais você.

Daí que, por precaução,
melhor não esperar nada de mão beijada.
Nada de ninguém.
Porque de onde menos se espera, daí é que não sai 
nada mesmo.
Pois mesmo quem pode ajudar, não ajuda,
porque no fundo acha que ninguém merece.
Que quando também precisou, ninguém ajudou.
O que nem sempre é verdade.
Para a avareza e a ruindade, pretextos não faltam.

Mano, irmão, brother
Há que encarar a realidade.
Estudar, trabalhar é o único jeito.
A menos que prefira dar uma de esperto,
roubar ou arrumar algum trouxa para enrolar,
Mas aí é uma questão de foro intimo.
De caráter, decência. Essas coisas tão em desuso,
mas que ainda tem o seu valor.
Convém não esquecer que o caminho mais fácil
geralmente é um caminho sem volta.

Não, não estou exagerando, radicalizando.
Ninguém me contou.
Falo por experiência própria.
Mas, vá lá, faça um teste.
De repente, dá sorte.
É premiado.
Os bons ainda sobrevivem.
Cada vez mais arredios e receosos de pagar de otário,
mas quem é de boa índole
não muda.
Não renega as origens, o berço.
Não esquece quem um dia também foi ajudado.
E quem os ajudou.

Sei lá, por mais que as coisas tenham mudado,
continuo pensando que ser respeitado,
poder olhar um filho de frente,
não há dinheiro que pague.
Afinal, são pessoas assim que ainda
permitem manter um pingo de fé na humanidade.

















                    sofisma


Quem cala consente ou é sábio ?
Se não cala, não consente nem é sábio ?
Ou é sábio calando sem consentir ?
Ou consentindo sem calar, 
é sábio por consentir ou não calar ?


quarta-feira, 18 de setembro de 2019







                REPETITIVA E CANSATIVA






Na modernidade líquida,
a vida desidratada.
Tudo rápido e fluído, 
à escorrer entre os dedos.
Nada se retém.
Nada se detém.
O que se ganha, se perde com a mesma
facilidade.
Gosta-se e desgosta-se.
Ama-se a desama-se 
A transitoriedade dos sentimentos
na dispersão dos interesses.
Os relacionamentos diluídos no mundo virtual.
Conhece-se todo mundo e não se conhece ninguém.
A banalização de tudo.
As aparências não enganam.
Altas autoridades são os primeiros a prevaricar.  
Embustes, farsas, 
inocência e ignorância, tudo misturado.

As relações, repetitivas e cansativas.
As dores, repetitivas e cansativas.
A vida, repetitiva e cansativa.
Os reveses, as insatisfações, corroendo silenciosamente
as entranhas.
Quando se vê, o enfarte, o câncer.
E o mundinho desaba. 
A cota de oportunidades se esgota, 
na falta de perspectivas, nas expectativas frustradas.

Vivendo sem viver, 
a vida desperdiçada sem razão de ser.
Sem nada de que possa se orgulhar ou fazer.
A não ser a consciência suprimir,
e continuar fazendo de conta
que está tudo bem. 
Que nada tem do que se envergonhar.
Ninguém liga mesmo.
Um filho da puta a mais ou a menos 
não faz diferença.


















O grande problema dos falsos e mentirosos
é que são desinteressantes,
sendo apenas o que são. 
Precisam de artifícios para passar 
pelo que não são. 





terça-feira, 17 de setembro de 2019





                     acasalamento                  





  

Pássaros madrugadores riscam a noite.
Algo está errado,
que diabo está havendo?
Essa cantoria
às 3 da manhã,
isso são horas para tamanha algaravia ?
Ainda que por uma boa causa ?

Ora, Ivan, deixa de ser ranzinza,
me adverte um amigo. 
É época de acasalamento, 
acaso já não fizeste loucuras 
pelo mesmo motivo ?




segunda-feira, 16 de setembro de 2019


                                                   
                             libertação







De tudo que me era mais caro, 
pouco ou quase nada restou.
Perdas, privações, ausências, 
da vida que partiu-se ao meio.  
E o que agora se impõe, 
diante da inexorabilidade das coisas,
é desapegar-me da inútil bagagem, de tudo que pesa
e para mais nada serve.

E assim, os mistérios e falsetas ignorar,
posto que indecifráveis, inevitáveis.
As pequenas conquistas valorizar, 
dentro do que hoje me é possível alcançar.
Os infortúnios e decepções aceitar 
como um preço à pagar. 
Sem lamentar, sem me abater, 
em sendo o infalível contraponto 
que a vida embute. 

Ser o que é possível ser, sem vínculos, expectativas.
Às crenças e sentimentos coercitivos abdicar.
Renunciar ao que não faz bem,
ao que não nos pertence.
No incognocível, conhecer-me.
No declínio, ascender a um novo patamar.   
No vazio, a plenitude achar.  
E sobretudo, a libertação de tudo que ficou para trás.
Para o futuro, sem futuro, de cabeça erguida enfrentar.





  
  







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