sábado, 26 de outubro de 2019
O ÚLTIMO GOLE
agora que a mão pesada do tempo
amassa e tritura minha vida pregressa,
e um mundo diferente se descortina,
quem sabe,
milagrosamente,
rompa-se a casca grossa com que me protegia,
e um par de asas, leves e coloridas,
enfim me apareçam.
passei a vida cuidando dos meus.
chegou a hora de pensar um pouco em mim.
com a vida no ocaso,
sem ninguém a meu lado,
se eu não o fizer, quem o fará ?
os frutos caíram da árvore,
as flores murcharam.
imperceptivelmente, o tempo
foi cinzelando de despedidas
a fugaz parceria com a felicidade.
rompidos os laços corrompidos,
junto os cacos do que fui um dia,
para seguir adiante sem lamentos nem dor.
sem mais dar ouvidos à maledicências e
censuras,
renunciando a toda sorte de ilusões,
sem lamentar o tempo perdido,
as coisas erradas,
os passos tortos,
as crenças fraudadas,
para apenas e tão somente,
sorver até o último gole
o prazer de viver.
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
terça-feira, 22 de outubro de 2019
BREVE E DEFINITIVO
Ser feliz é tudo o que se quer.
Mas não depende de nós.
Na vida povoada de latifúndios, iates, vielas,
sequer nos compreendemos.
Por preço vil vendemos a alma.
Sobre mesas, camas, covas, brilha o indiferente sol.
Entre sorrisos, a tristeza emerge na forma do amor
adulterado.
O que se salva é o que se perde.
Dentro do pranto, apelos obscuros se multiplicam.
A fuga do real abraça as coisas, sem possui-las.
Tudo é breve e definitivo.
À sombra do mundo errado, convém não esperar demais.
Cedo ou tarde, tudo se extravia.
Ser feliz ? Amar ? Miragens que
se dissolvem em dias ásperos, impuros silêncios.
Dia virá em que nada mais será lembrado.
E o esquecimento, ainda memória,
em resto dos restos se transformará,
fazendo da vida vivida a antivida,
ainda menos que o pó,
nada que valha a pena recordar,
em corações
que se estranham e se maltratam.
quem reinventará o amor ?
Há um tempo em que o tempo
parece não passar.
E há um tempo em que o tempo
parece voar.
Um tempo em que
tudo parece possível.
E outro,
na bacia das almas,
em que nada mais é crível.
Habitam dentro de nós
sonhos sempre adiados.
Pouca coisa resiste
ao ingresso à vida
que não foi vivida,
a renúncia de toda procura.
Pois eterno é o sentimento que nos
une e separa.
A tudo que não passa,
posto que não houve.
Quando me perdi já estava perdido,
o que era para eu ter sido.
Antes mesmo de haver nascido,
envelheceu antes de romper o novo.
Em tudo que se perde sem ter ganho.
No amadurecer longínquo,
voltando pelos caminhos em busca de mim,
procuro quem não vejo,
o que não existe mais.
Em sonatina exaltação,
o despertar num mundo programado
em softwares, backups.
Quem comporá uma nova nona sinfonia,
antológicos boleros,
Yesterday, Hey Jude ?
Quem reinventará o amor ?
domingo, 20 de outubro de 2019
SABEDORIA
Na guerra,
na prisão,
nos redutos do tráfico,
nos conflitos,
nas esferas do poder,
nas altas cortes,
nos subterrâneos da Internet,
é onde
melhor se conhece o homem.
É onde
o homem se conhece.
Em toda sua potencialidade.
Em toda sua bestialidade.
Fazendo coisas que até Deus duvida.
Algoz e vítima na autofagia do tempo.
Agonizando na hemorragia paciente da vida.
Sem saber o que sentir,
sem ao menos compreender
tantos sortilégios,
numa vida feita de inutilidades,
sábios e tolos,
engrossam o cortejo dos desgraçados.
Ante a lógica insana das coisas,
a sabedoria cega da inconsciência
é para onde tudo converge.
moeda de troca
Chega um tempo em que tudo se esgota,
tudo cansa.
As palavras se perdem, nada mais importa.
O que foi feito, o que foi dito,
não faz diferença.
A alma cativa e estéril não transige,
desafiando a razão.
Ah, quem dera esquecer a injustiça
que consome.
As coisas perdidas, muito mais que findas,
corrompidas.
Para que o coração humanizado
possa reviver,
e todo esse querer,
em moeda de troca transmutado,
um novo disfarce o amor escolher.
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