quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
domingo, 8 de dezembro de 2019
cova rasa
Por mais que nos imaginemos fortes,
aptos a enfrentar qualquer parada sinistra,
a verdade é que não estamos preparados
porra nenhuma.
Basta o destino, os deuses,
ou seja lá quem for,
mexer os pauzinhos, se invocar com nossa cara,
por alguma coisa que fizemos,
e tudo vai por água abaixo. Num segundo.
Quer você queira ou não.
Quando chega o pior, nada se pode fazer,
sequer entender, procurar algum nexo,
pois não há lógica, não há nexo,
não há truques que impeçam as perdas, os traumas,
as traições.
Vivemos sob a égide do imponderável,
o utilitarismo escrachado permeia as relações.
Enquanto você for útil, de algum proveito, o previsível
desfecho vai sendo adiado.
Mas a aposta numa vida perfeita mais cedo
ou mais tarde põe tudo perder.
Ora, a busca do mito da felicidade
é não só
impraticável, como insana.
A vida carece de ser um pouco desperdiçada
e suja.
impraticável, como insana.
A vida carece de ser um pouco desperdiçada
e suja.
dar conta de tudo é uma proeza
E no entanto, é preciso resistir.
Estar acima dessa merda toda que gruda
como chiclete na sola do sapato.
É preciso trabalhar, pagar as contas,
tomar os remédios direitinho, quando há dinheiro
para comprar.
É preciso tirar o lixo logo cedo, levar o dog para esticar
as pernas,
sem esquecer de limpar o coco na calçada,
normalmente já suja e malcheirosa, afinal,
você sabe,
estamos no Brasil, o reino dos porcalhões
e ratazanas da vida pública.
É preciso estar esperto para não ser
enganado,
pois alguém está sempre de olho no que é seu.
Marginais, espertalhões, malandros de toda natureza
não faltam.
Se bem que contra a tunga oficial
nada se pode fazer,
os impostos, a roubalheira institucionalizada,
tributos que você vai pagar até
morrer, e mesmo depois sobra para alguém,
se não quiser ser enterrado como indigente.
É preciso ser forte para aguentar o tranco,
ter estomago
para engolir desaforos, sapos, sacanagens,
injustiças.
E ainda assim não desanimar, ser honrado, correto,
quando a vontade é mandar tudo à merda,
dar o troco na mesma moeda.
Mas você não consegue, né ?,
porque você é decente,
tem um nome à zelar,
como seus velhos lhe ensinaram,
e cá pra nós,
nada como poder olhar os filhos de frente,
não importa se as coisas eventualmente azedam,
nesses tempos difíceis
dar conta de tudo é uma proeza,
e a própria família às vezes vai para o espaço.
E no entanto, é preciso resistir, insistir,
tropeçar e levantar,
amar, desamar, amar de novo, ou ao menos tentar,
dando o seu melhor,
dando o seu suor,
dando o seu labor,
dando o seu calor,
enfim,
fazer a sua parte, o que a consciência manda,
mesmo que não lhe deem valor,
debochem de sua
integridade e honestidade de propósitos.
Pois como diria o velho safado do Bukowski,
o destino só é uma puta se deixarmos que seja.
sábado, 7 de dezembro de 2019
arapucas
Sim, é inevitável,
há momentos cruciais
em que a vida dá uma guinada.
Como quando você descobre que não é
mais importante.
Que deixou de ser o cara.
Que passou a ser apenas uma figura decorativa,
um simples provedor,
marido distante,
pai ausente.
E de quebra, um farsante, sujo, descartável.
É o que te jogam na cara, numa certa hora fria,
como se a memória estivesse anestesiada.
Como se as coisas tivessem meramente acontecido,
nebulosas, frágeis, tartamudas,
não deixado nada além de queixas,
mágoas escamoteadas.
Ressentimentos que de repente vêm à tona,
em função de uma dessas arapucas da vida.
E eis que você se vê repentinamente
despojado de tudo,
deslocado no tempo, sem nada que possa fazer,
posto que impotente, vencido,
útil apenas para arcar com as obrigações de praxe.
Sim, o momento crucial em que tudo muda,
um dia chega.
A medida que se envelhece, os sentimentos,
tudo aos poucos desaparece.
Rápido é o sonho,
cruel o despertar.
E o eu que paira sem ser tu,
deslocado na nova realidade com que estoicamente
se defronta,
se entrelaçam para ser alguém
que tece sua própria mortalha.
é tudo passageiro, irmão
Quem já não se viu sufocando
entre quatro paredes,
se afogando em rios que correm para trás.
Morto em corações de pedra.
Implacáveis, incapazes de perdoar,
não se olham no espelho para não ver
onde também erraram.
Quem já não se viu deslocado no tempo
e no espaço,
a vidraça da vida estilhaçada,
enchendo a cara ou enfiado num quarto escuro,
pensando na melhor forma de suicídio.
E no entanto,
é tudo passageiro, irmão.
A ilusória felicidade,
a desgraça irremediável.
O coração partido chora
até não haver mais lágrimas.
E de uma forma ou de outra,
uma nova vida começa.
Às vezes,
melhor que a de antes.
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