das cinzas outra forma toma
Não obstante as rebordosas,
os percalços,
os mil disfarces que assume,
a vida é boa,
a vida pode ser boa.
Conquanto o destino permita,
não botemos tudo à perder.
Ainda que sujos, doentes, volúveis,
somos predestinados à amar.
Mesmo os desafortunados
tem dentro de si a centelha do amor.
Que pode reverberar a qualquer instante,
ou deambular para sempre
nos confins da alma.
Erma e vazia é a vida
dos que não sabem amar.
Não conseguem amar.
Nem a vida, nem ao próximo.
Entregar-se de corpo e alma a uma paixão.
Sentir o coração pulsar freneticamente
diante da beleza inebriante da entrega.
Ou do sofrimento alheio, o que
é ainda mais belo.
A vida que concebemos é a vida que
merecemos.
Se ao longo do caminho nos perdemos,
e amar desaprendemos,
ou o amor negligenciamos,
nada nos salva da futilidade trágica da vida.
O imaculado e imperfeito amor,
que no ressecamento dos sentidos,
incapaz de resistir ao tempo,
como tudo que é humano,
adoece,
perece.
Das cinzas outra forma toma.