quinta-feira, 4 de junho de 2020
quarta-feira, 3 de junho de 2020
todas as histórias de amor se parecem
Todas as histórias de amor se parecem.
É quase sempre o mesmo enredo,
com o previsível desfecho.
Alguém sempre abandona o barco.
Se não de corpo, de alma.
Pois em algum momento, algo se quebra,
grave, profundo, ou banal,
o tempo faz isso com a gente.
Fode com tudo.
Amei pra caralho, posso não ter demonstrado,
como devia, mas é
a mais pura verdade.
Assim como fui amado também,
talvez até mais do que merecia,
e não soube reconhecer. Retribuir.
Tudo muito simples, elementar.
Há casos muito piores, como a gente está
cansado de ver.
Mas sempre com o mesmo manjado desfecho.
O amor é flor delicada,
às vezes do nada perece, sem motivo, explicação.
E isso acaba com a gente. Porque a gente quer
uma explicação. Um motivo plausível.
Para amargar a culpa,
se matar se for o caso.
Porque o amor que acaba por nada, por mixaria,
caramba ! Nem amor era.
E o que pode ser pior do que se envolver,
passar anos a fio,
uma vida,
acreditando em algo que não existia ?
distrato
Acaso ignoras que
quem é prisioneiro do passado,
não vive o presente ?
quem é prisioneiro do passado,
não vive o presente ?
Que tudo que não passa,
dói em dobro ?
Pelo que foi
e pelo que não é mais ?
Saudades sob a aparência de remorso,
num mundo desintegrado,
urge firmar o distrato
que permita
reconciliar-se com a vida.
Deixar de se importar com quem
não se importa com você.
terça-feira, 2 de junho de 2020
a versão final
Como uma lei que não foi escrita,
estou condenado a lembrar
o que tento esquecer.
Esse sentimento que nem sentimento
o que tento esquecer.
Esse sentimento que nem sentimento
mais é,
cujo hábito cultivo à contragosto.
cujo hábito cultivo à contragosto.
Quem sabe um dia possamos
nos encontrar,
com o coração menos duro,
as certezas menos consolidadas,
sem qualquer outra intenção
que não a de apaziguar.
Fazer de conta que estamos em paz.
Assim, talvez, tudo enfim se encaixe.
Cada um se veja na versão do outro,
para chegar a versão final.
E o que vivemos, finalmente,
encontre o seu devido lugar
dentro de nós.
nos encontrar,
com o coração menos duro,
as certezas menos consolidadas,
sem qualquer outra intenção
que não a de apaziguar.
Fazer de conta que estamos em paz.
Assim, talvez, tudo enfim se encaixe.
Cada um se veja na versão do outro,
para chegar a versão final.
E o que vivemos, finalmente,
encontre o seu devido lugar
dentro de nós.
segunda-feira, 1 de junho de 2020
cair na real
Há fases na vida que equivalem a verdadeiros testes de sobrevivência. Às vezes por um certo tempo, às vezes permanentemente, o fato é que viver implica em pagar o preço compatível, cada qual com sua cota de dor, sofrimento, normalmente atrelados as nossas escolhas, ou simplesmente pertinentes a forças maiores, ao destino de cada um.
Costuma-se dizer que nada dura para sempre, mas o insatisfatório às vezes dura, sim, uma eternidade. Que é quando não temos a capacidade de mudar as coisas, quando nos limitamos, nos conformamos e aceitamos condições degradantes como modo de vida. O comodismo é por si só um fator negativo poderoso, no impasse entre sair da zona de conforto e tentar algo novo às vezes desperdiçamos a vida. É quando a intervenção do acaso, do destino, da providência divina, ou coisa que o valha, acabam nos submetendo a mudanças que colocam nossas vidas de cabeça para baixo. No primeiro momento, com ares de tragédia, caos, mas com o tempo, transmutados em verdadeiras dádivas, bençãos divinas.
O que não significa que essa transição seja fácil, automática, e muito menos indolor. Muito pelo contrário, como diz o ditado, sem sacrifício, sem ganho. Tudo começa pela conscientização, pelo gradativo controle dos sentimentos, responsáveis pelas emoções, paixões e impulsividade. Não há prazo nem atalhos para tal transformação, pois cada um reage conforme seu approach pessoal, tem seu tempo, que independe da própria bagagem cultural. Nesses casos, meros acessórios dos mecanismos de defesa ligados ao instinto de sobrevivência.
Tudo isso para reafirmar que tudo na vida é um processo em constante mutação, com muitas variáveis. Que na maioria das vezes estagnamos por opção própria, que o sofrimento, os danos, somos nós mesmos que nos infligimos. Que o maior mal que podemos nos causar é nos auto-enganarmos. Fechar os olhos, não ver o óbvio.
Em suma, há que se ter noção das coisas. Cair na real, pura e simplesmente, não complicar o que já é complicado.
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