um peso, duas medidas
Por motivo algum e motivos vários,
sou a melhor e a pior das criaturas.
A mais digna e a mais vil.
Louvado e execrado.
Anjo e demônio.
O melhor e o pior filho, pai presente e
ao mesmo tempo ausente.
Amante fogoso e relapso.
O outro que existe em mim, afinal,
quem é ?
Sadio e podre,
o certo e o errado, numa só pessoa.
Ou alguém que foi sem nunca ter sido ?
A um só tempo, belo e sujo.
Incrível e sórdido.
Herói e psicopata.
Intenso e promíscuo.
Assim mesmo, aos olhos
de quem mais me conhece.
Há que se dar crédito...
Meu coração generoso e ardiloso,
mártir e algoz de si mesmo,
em paroxismos se diverte e padece.
Despojado de atrativos, às feras lançado,
julgado e condenado
sob um peso e duas medidas.
Eis como tenho sido retratado.
A um tempo triunfante e espicaçado.
Demiurgo de antigas fantasias, amado e
repudiado, fiz de mim um simulacro
do que deveria ter sido.
Dói saber
que quem mais me difama,
consta que um dia me amou.