a caça e o caçador
Quem não vê a ternura que há na fera
que mata sua presa para comer
quase pedindo desculpas
não sabe as manhas de viver.
Que um dia da caça, outro do caçador.
a rosa púrpura do Cairo
Não é porque as coisas se baseiam
no interesse
e no dinheiro
que precisam ser evitadas.
Basta saber, não se iludir.
Mil vezes chamar uma puta, comer, pagar
e mandar embora,
que viver uma relação insatisfatória.
Mas vai de cada um, sempre
há quem se contente com pouco, ou
em ser corno manso.
Como sabemos desde sempre,
alguém tem que ir para o sacrifício.
Manter a aura de integridade,
segurar a bandeira da caricata vida familiar.
O importante é conservar as aparências,
um título bonito para um filme ruim.
Como A Rosa Púrpura do Cairo.
MAIS DIDÁTICO, IMPOSSÍVEL
As coisas acabam.
Os sentimentos morrem.
As pessoas se vão.
A vida está sempre mudando.
Adaptar-se é preciso.
Deixar remorsos,
dores de consciência para trás.
Não ajudam em nada.
Como diz o estribilho daquela antiga canção,
"levanta, sacode a poeira
e dá a volta por cima".
Mais didático, impossível.
desmanche
Desmontar
a obsoleta engrenagem
da minha vida pregressa
peça por peça.
Esquecer aquilo que se dispersou
como um sonho dentro de um sonho.
Sem mais palavras, explicações vãs,
simplesmente por
um etc ao fim da frase.
Levar a vida que falta,
sem mentiras,
subterfúgios,
tipo assim,
reciclar o que não deu certo,
para não incidir nos meus erros.
voar não dói
Ontem, hoje, amanhã,
o que foi, o que tive, o que sou,
o que me sobrou...
Tempo e espaço que se combinam
no que vai, no que vem.
Bençãos e desgraças irmanados.
Incautos aqueles que amam
sem esperar o soco, o troco, o tiro.
Como se fosse possível amar sem brigar,
sem se estranhar,
sem se decepcionar.
Como se a gente pudesse combinar
de nunca se machucar.
Arre, não é assim que funciona.
Voar com as asas feridas dói.
Mas é preciso.
Porque é voando que a ferida cura.
Sejamos sinceros : há momentos na vida de um homem em que só mesmo recorrendo aos serviços de uma puta. Que nada espera, nada exige, além ...