Acho que o obituário mais honesto que poderia
ser escrito, sobre qualquer pessoa,
é o seguinte : tinha um lado bom,
como todo mundo, mas também tinha
o seu lado sujo.
Que cada receba aquilo a que fez jus.
Descanse em paz, eterno pibe Maradona.
a sina dos deserdados
E se eu tivesse nascido aleijado,
deformado, pobre, preto, doente, mentalmente desiquilibrado,
largado, abandonado, sem um lar, sem uma família,
num buraco qualquer, num gueto, indesejado,
mal-amado,
maltratado,
como tantas crianças,
como a maioria das crianças,
que crescem sob as maiores privações,
sem acesso a nada,
estudo, saúde,
discriminados,
marginalizados,
sejamos francos,
quem poderia me julgar ?
Quem poderia me condenar
por não seguir as regras,
aos padrões vigentes,
impostos pela burguesia, pelos poderosos ?
Tive a sorte de ser bem-nascido, nada me faltou,
a vida foi generosa comigo,
o que me obriga a ser minimamente compreensivo
e tolerante
diante da excruciante sina dos deserdados.
Por mais difícil que seja, considerar os atenuantes.
Ninguém é ruim por acaso.
E nem todos são maus por natureza.
ninguém merece
ser feliz
para sempre
A minha melhor lembrança
é daquela tua alegria escandalosa.
Do teu jeito de fazer as coisas darem
certo, mesmo quando não davam.
A minha melhor lembrança é de como
nos bastávamos,
mesmo nem tudo sendo flores.
A minha melhor lembrança...foram tantas
que se tornaram banais.
Daí, talvez, não ter durado.
Ninguém merece ser tão feliz
para sempre.
DEUS ME LIVRE DOS AFETOS
Meus afetos me fazem mais mal do que meus desafetos.
É o preço que se paga pelo amor, pelo apego, pelos cuidados,
pelas preocupações.
No mais das vezes não correspondidos,
sequer valorizados.
E o pior é que não se pode fazer nada a respeito.
O que vai no íntimo de cada um, ninguém sabe.
Ninguém ao outro verdadeiramente conhece.
Nem mesmo os entes queridos.
Que são os que mais nos decepcionam.
As vezes sem culpa estabelecida.
Nós é que os superestimamos. Nos iludimos.
Eis porque rezo a Deus
para que me livre do jugo dos afetos.
Que dos desafetos me livro eu.
Sejamos sinceros : há momentos na vida de um homem em que só mesmo recorrendo aos serviços de uma puta. Que nada espera, nada exige, além ...