domingo, 29 de novembro de 2020



                                       

                  O MAIOR PRESENTE






Tudo de bom e de gratificante na vida

passa pela possibilidade de fazer o que se gosta,

o que nos dá prazer.

O que as apreciáveis posses materiais e o dinheiro

nem sempre conseguem.

Como, por exemplo, a sensação de paz, de liberdade.

Não precisar dar (nem pedir) satisfações de seus atos.

Poder falar, pensar, fazer o que lhe der na veneta,

sem receio de contrariar, de ser mal-interpretado. 

Tendo apenas

a própria consciência como juiz.

Poder ligar o foda-se, 

e ir dormir leve como uma pluma.

Pode haver coisa melhor ?


Coisas simples, aparentemente fáceis de obter,

mas cujos obstáculos se agigantam 

na proporção

das responsabilidades e compromissos

que estamos sempre à assumir. Voluntariamente ou não.

Afinal, ninguém vive sozinho.

Há regras, obrigações, imposições

das quais não se consegue fugir nem ignorar.

Que tendem a aumentar a medida que 

formamos família, progredimos, 

eventualmente galgamos a fama,

o sucesso e o dinheiro jorram.

Cujo preço, no mais das vezes, é o fim do sossego,

da paz,

da liberdade.

Dos pequenos prazeres que são o maior

presente da vida.




 


   



    

                 de ouro ou de merda





Há sempre muitos caminhos à trilhar.

Múltiplas escolhas.

Muitas maneiras de conseguir as coisas.

E de perdê-las.

Sob o áugure desse estranho mundo,

a um só tempo indulgente e temerário.


De vigílias e sevícias é o nebuloso aprendizado

que se impõe as misérias de cada dia.

Sobre o ontem e as perdidas coisas

esculpimos o amanhã de ouro 

ou de merda.


 

sábado, 28 de novembro de 2020



                                      o espelho partido





Em tempo percebi que há tarefas que

que jamais serão cumpridas.

Que o inútil esforço se desfaz diante do austero 

breviário de desilusões.

Que paira como um espelho partido, deformando 

o que foi perdido.

Alheio a conversão de todas as coisas.


Nunca se sabe qual o momento da mudança

irreversível.

Constatado que não há mais nada pelo que

valha a pena lutar.

Quando o amor não mais compartilhado se avilta

de tal forma

que nem o perdão se faz mais necessário.



  

quinta-feira, 26 de novembro de 2020



 


 






    



 

    





Acho que o obituário mais honesto que poderia

ser escrito, sobre qualquer pessoa,

é o seguinte : tinha um lado bom,

como todo mundo, mas também tinha 

o seu lado sujo.

Que cada receba aquilo a que fez jus.


Descanse em paz, eterno pibe Maradona.




 

domingo, 22 de novembro de 2020



            a sina dos deserdados



          


E se eu tivesse  nascido aleijado,

deformado, pobre, preto, doente, mentalmente desiquilibrado,

largado, abandonado, sem um lar, sem uma família,

num buraco qualquer, num gueto, indesejado, 

mal-amado, 

maltratado,

como tantas crianças,

como a maioria das crianças, 

que crescem sob as maiores privações,

sem acesso a nada,

estudo, saúde, 

discriminados,

marginalizados,

sejamos francos,

quem poderia me julgar ?

Quem poderia me condenar 

por não seguir as regras,

aos padrões vigentes,

impostos pela burguesia, pelos poderosos ?

Tive a sorte de ser bem-nascido, nada me faltou,

a vida foi generosa comigo,

o que me obriga a ser minimamente compreensivo

e tolerante

diante da excruciante sina dos deserdados.

Por mais difícil que seja, considerar os atenuantes.

Ninguém é ruim por acaso.

E nem todos são maus por natureza.












  



                             ninguém merece

               ser feliz

               para sempre





A minha melhor lembrança 

é daquela tua alegria escandalosa.

Do teu jeito de fazer as coisas darem

certo, mesmo quando não davam.


A minha melhor lembrança é de como

nos bastávamos, 

mesmo nem tudo sendo flores.

 

A minha melhor lembrança...foram tantas

que se tornaram banais.

Daí, talvez, não ter durado.

Ninguém merece ser tão feliz

para sempre.


  

Postagem em destaque

A uma certa pessoa :   Você vai pagar por tanta maldade. O teu está reservado. Da justiça divina ninguém escapa.