quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

 


                   a quem interessar possa



Poucos de nós somos capazes de reconhecer

os próprios erros. Assumir culpas e responsabilidades

por atos que não só prejudicam

mas inviabilizam as relações arduamente costuradas

ao longo dessa grande colcha de retalhos

que é a vida.

Poucos são os que conseguem olhar para além

do próprio umbigo, deixar o egoísmo

e as mesquinharias de lado, e sobretudo,

colocar-se no lugar dos outros, para melhor

entendê-las, ampará-las, partilhar de suas dores e

problemas.

Em suma, pouquíssimos de nós correspondem ao

elevado conceito que fazemos

de nós mesmos. Conceitos estes naturalmente

moldados por ideais e premissas deformadas 

pelo próprio meio ambiente em que estamos

inseridos. Ou seja, pelo que nos é incutido

em casa e na rua.

Nesse contexto distópico, o conflito entre o que

temos, o que somos, e poderíamos ter sido,

permanece como uma abstração 

que nos sonega a percepção de que a felicidade

está nas coisas mais simples.

De que estar de bem consigo próprio e com a vida,

é a maior das conquistas.


 (agosto/2016)

domingo, 7 de fevereiro de 2021





De certeza em certeza

vamos perdendo a leveza.

A medida que julgamos e condenamos,

como donos da verdade

que não somos.


 

sábado, 6 de fevereiro de 2021



                       a inconstância despótica da vida


 





Não se iluda, as coisas só pioram com o tempo.

A gente só piora com o tempo.

Difícil dizer se a gente piora porque

as coisas pioram,

ou as coisas pioram porque a gente piora.


O aprendizado é curto e lento.

Logo tropeçamos em outros erros.

Mas ninguém tem culpa de nada.

Somos o que somos.

A vida é o que é. 

O tempo não melhora as coisas.

Lá pelas tantas, tudo desaba.

Podemos apenas contemporizar, retardar.

Toda alegria é transitória. O sofrimento permanece.

A consciência lúcida e serena

das coisas e das dores

é só o que atenua

a inconstância despótica da vida.





      

                                 picadeiro



Representar, improvisar

é só o que nos compete fazer

no picadeiro da vida.

Ora sorrindo, ora sufocando a dor,

sem tempo para lamentar,

sem tempo para chorar.

Que o show têm que continuar.



 



- A mãe está em casa ?

- N

- Você está bem ?

- S

- Ok

- Blz

- Bjos

- 👍💓💪


(Mini-diálogo com meu filho adolescente, na

linguagem cifrada do wats ap).



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021


                      o amor de Deus é ininteligível






É triste querer fazer e não poder.

Querer dar e não ter.

Sentir e de nada valer.

Não como gostaria. 

Urdidura de amor e compaixão.


Dizem que é preciso crer, ter fé.

Mas o amor de Deus é ininteligível.

Dor e padecimento infundidos sob a crença estúpida

de que há razões secretas para tudo.

Ora, quem nos salvará, quando não há 

quem nos salve do imponderável ?

O mesmo Deus que salva e mata ?

Bem-aventurados os que vivem sem precisar 

de subterfúgios.

Que se curam sem recorrer a paliativos.

Que são mais fortes do que a morte,

porque não a temem.




















 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021


              amor com amor se paga



                            


No roçado da vida, carpia o mundo impregnado de pobreza e miséria.

A boca em ruínas e os olhos cegos de evidências co(r)tejam 

o limo e o ermo.

Sisma de andar à beira do desvario, eventualmente enlouquecer, 

a força da mudez dos sonhos. 

Acalenta o dom de viver sem expectativas, 

arrimo de suspiros, arrepios, caminhos de arrebol, 

para ao fim e ao cabo, 

refestelar-se nos mais simples prazeres.

De pecar não abdica, até por descrença de tudo.

Respeito, só pelo que rasteja, pelo que não carece de disfarce

e partilha a terra (Heráclito).

Tudo o que almeja é voltar às origens. 

Como o salmão que nasce programado para viajar  

milhares de quilômetros e depois retorna ao mesmo lugar. 

Para morrer. 

Catécumena criatura, gesta a vida como quem capina 

com enxada cega.

Íntimo das coisas desimportantes, das coisas descartadas,

de estrelas que não luzem.

Afeito à grotas, gretas, ruelas, caminha entre púbis e prebendas,

engendrando momentos em que as ausências

desocupam os cômodos. 

Mas os desejos não cessam.

Em meio ao rebanho que apascenta o pastor,

encontra-se no amor que com amor se paga. 

 












 






 

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