O poeta burila seus versos
como que edita
o que o coração dita.
restos, rastros, rostos
Porque no fim só restam as palavras.
Mais indecifráveis do que nunca.
O que foi dito e o que não foi dito.
No indizível bailado das formas disformes,
mil formas de sentir condensadas em parábolas
estanques.
Cumpre adivinhá-las antes do salto mortal.
Surdo, cego, vil, imundo : é o mundo.
Com pompa e circunstância (ou não ),
indefere nossos pedidos,
ignora nossos anseios.
O sol nascente indiferente às preces e súplicas.
Em crepúsculos de água e sangue,
zumbidos de moscas não diferem louvor e morte.
O encadear-se das coisas suprime a beleza.
No caminho divergente, ninguém sabe o que é ida
e o que é volta.
Os restos, os rastros, os rostos
deformados
girando
sonâmbulos
nos descampados do mundo.
No princípio, tudo é belo. E ainda é belo
enquanto perdura
a ridícula crença no amor.
pense direito
Não nasci para grandes feitos. Não tenho os requisitos.
Me contento em não dar vexame.
A memória é nossa maior herança. Não se esqueça disso.
Não imagino a vida sem fantasia. Para compensar
a monogamia (hahahaha, pensou que eu ia dizer monotonia, né?).
Não há muito o que fazer depois de feito.
Portanto, pense direito.
Haicais domingueiros
Domingo, dia da preguiça.
Toca encher linguiça.
Domingo que é domingo
a gente passa rindo.
Domingo que é domingo não fica sem missa.
Ou pissa.
Domingo é só alegria.
Seja com churras ou frango de padaria.
Domingo é bom até quando chove.
Pra ficar no modo love...
Domingo é tudo de bom. Dormir até tarde,
o macarrão da mama, futebol, namorar.
Sem contas pra pagar...
As coisas são o que são
Porque em todas as coisas feitas de água, ferro e fogo,
o perfeito e o imperfeito se misturam.
Porque a gente é capaz das coisas mais sórdidas.
Porque estamos sempre disponíveis para novos erros.
Porque a gente esquece tudo facilmente.
Porque a gente nunca aprende.
Porque a gente não sabe ser feliz.
Porque a gente está sempre se desviando das rotas.
Porque a gente não viaja o bastante.
Porque o espaço entre nós é similar ao abraço
que não foi dado.
Porque você é mais bonita nas lembranças.
Porque eu nunca vou me desculpar por sentir tudo
à flor da pele.
Porque ninguém ao outro verdadeiramente conhece.
Porque a ausência dói mais que a saudade.
Porque os dias ensolarados são os piores.
Porque o amor que salva é o mesmo que mata.
Porque a gente nunca se lava dos pecados.
Porque o amor nos torna vulneráveis.
Porque um pouco de álcool de vez em quando é a melhor terapia.
Porque ainda há um pouco de você em tudo o que toco.
Porque o amor também pode ser equânime
e tranquilo. Mesmo que o teu corpo a outro pertença.
E a intimidade se tornado estranheza.
Porque o elixir da memória não é uma
dádiva duradoura.
Porque até os melhores perfumes perdem o cheiro.
Porque a gente é de carne e osso.
E não existe culpa em se rebelar com uma vida de
merda.
Porque no fundo a gente está sempre sozinho.
Porque os afetos "são distinções que decidiram
coexistir."
Porque as coisas são o que são.
Ou não.
estatuto da humanidade ( Tributo à Thiago de Mello ) Que possamos ser : humildes s...