Nunca diga
desta mágoa
não beberei.
(Germana Zanettini)
distrações
Naquele instante mágico
em que tudo acontece,
iludidos e pretenciosos,
imaginamo-nos,
regentes do que somos.
Esquecidos de que nada somos,
nada temos,
além de breves distrações
em meio
aos intermináveis suplícios da vida.
Sim, o mundo é cruel,
especialmente às primeiras horas da manhã,
quando quase todo mundo dorme,
sem imaginar toda a merda que vai acontecer.
o homem só
O homem só nada teme.
Porque tudo já lhe foi tirado.
Sua sina é a da espera ansiosa pelo que não virá.
Deu os desejos todos por um modo de sarar as feridas.
Enquanto a indesejada não chega.
Com a pouca vaidade resumida à gasta dignidade.
E o pensamento dividido entre deitar para dormir ou morrer.
O reino dos céus está logo ali.
Espera ter feito por merecer.
no apagar das luzes
Assim como este virtual apagar das luzes,
meus versos também encontram seu termo,
como ondas que arrebentam nos molhes.
Nada mais tenho a dizer.
Nada devo a ninguém, nem me sinto credor.
Logo a vida que se esvai não será mais
que memória.
Vago canto de pássaros que não vemos.
Vejo passar meus últimos dias como quem
não tem mais nada a perder. Muito menos ganhar.
O que fiz de bom ou de ruim me segue como um
cão fiel.
Quando a hora chegar, hei de estar arrumado
como para ir a uma festa.
O melhor de viver é esperar.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...