o que eu ainda quero da vida
A cada dia mais me desconheço.
Indefinidamente, regresso à vida.
Compartilhando a visão perturbadora da inocência
e da maldade.
Guardo comigo o princípio e o fim.
O fruto, a flor, sexo sem nome, o riso dissimulado,
o mistério de corações corroídos de ferrugem.
A vida que eu quis é a vida que eu tenho.
Precedida de submersas paisagens, âncoras de vida,
monopólio da infância que se quebra e se reagrupa.
À causa de encontrar-me tenho vivido.
Provando a terra, vasculhando gavetas,
despencando de abismos metafóricos,
inúteis como dente do siso.
Que ninguém se atreva a julgar-me !
Sou meu próprio juiz e carrasco.
Sonho o sonho proibido.
Busco prazeres inconclusos.
Cheio e oco por dentro.
O coração repleto de sentimentos complexos.
O que ainda quero da vida ?
A lúdica paciência do pescador.