domingo, 26 de junho de 2022




                    não perca tempo





Não perca tempo querendo se passar pelo quê não é.

Mais vale tentar ser melhor do que é.


Não perca tempo tentando mudar as pessoas.

Mais vale dar o exemplo. Ou afastar-se.


Não perca tempo lutando contra o tempo,

quando o mais sensato é dar tempo ao tempo.


Não perca tempo esperando reconhecimento, gratidão.

Faça a sua parte, dê o seu melhor, e durma tranquilo.


Não perca tempo com quem não vale o seu tempo, 

sua atenção, o seu amor. 

Se a recíproca não for verdadeira, não se detenha. 

 







 


          a vida não tem porto seguro





O céu passeia no jardim sem flores.

Dias extraviados no espaço-tempo, 

disfarçados de realidade,

imitam o vento.


Tão longe, tão perto, 

a dona do meu coração vai e vem,

vem e vai.

A vida vai e vem. Vem e vai.


Inútil arguir os poderes do mundo.

Assim nos encontramos, aleatoriamente dispostos

em nossas jaulas e prisões. 

Investidos de sentimentos contraditórios, buscando

encontrar uma mão estendida, um ninho.


O tempo é o alimento que nutre e mata.

Tudo se faz sombra e obituários.

A vida não tem porto seguro.

   

sábado, 25 de junho de 2022


         o que eu ainda quero da vida





A cada dia mais me desconheço.

Indefinidamente, regresso à vida.

Compartilhando a visão perturbadora da inocência

e da maldade.

Guardo comigo o princípio e o fim.

O fruto, a flor, sexo sem nome, o riso dissimulado,

o mistério de corações corroídos de ferrugem.


A vida que eu quis é a vida que eu tenho.

Precedida de submersas paisagens, âncoras de vida,

monopólio da infância que se quebra e se reagrupa.

À causa de encontrar-me tenho vivido.

Provando a terra, vasculhando gavetas, 

despencando de abismos metafóricos,

inúteis como dente do siso.


Que ninguém se atreva a julgar-me !

Sou meu próprio juiz e carrasco.

Sonho o sonho proibido.

Busco prazeres inconclusos.

Cheio e oco por dentro.

O coração repleto de sentimentos complexos.

O que ainda quero da vida ?

A lúdica paciência do pescador.







 

sexta-feira, 24 de junho de 2022


            amor & paixão





 


Na cronologia das paixões, o amor é intruso.

Híbrido. Rouba a cena.

Paixão é carne.

Amor é coração.


Da paixão ao amor, a vida gira ao contrário.

Paixão é o abismo dos sentimentos.

Amor é a fábula que se converte em usura.

Ambos separados pelo tempo, que é âncora e naufrágio.


Como tudo que se faz ausente, 

o desfecho bélico ou melancólico

devora os desejos.








domingo, 19 de junho de 2022




                   ser humano





Não há façanha maior do que o viver bem vivido.

À luz da razão mas sem deixar de ouvir o coração.

Ser capaz de refazer o caminho a cada tropeço.

Ter a alma limpa como a das criança.

Reinventar o amor para que não perca sua essência.

Fazer das armadilhas do tempo compêndios de libertação.

Embrulhar o sol para desinventar as tristezas.

Entender a anatomia de cada palavra.

Descobrir diamantes na pedra bruta, e saber, 

ter paciência para lapidá-los.

Sonhar o sonho factível.

Da mentira e da hipocrisia lavar-se.

Ouvir o silêncio, ser gentil com o cansaço.

Afastar-se de tudo que não reparte, que não possa ser repartido.

Ser fiel a seus medos, para que possa aquietá-los.

Conquistar o direito de ser feliz, sem atalhos

nem subterfúgios.

Ser humano. 





 




                    ELEGIA





Nada me restou senão a mim mesmo.

Trago veredas e fragmentos de solidão no olhar.

As respostas que procurava abriram fendas no nada

das causas naturais.

De concreto, apenas o olfato

                                     o tato

                   e o fato de ainda poder celebrar

a angustiante alegria de viver.

Pois mesmo quando a vida fere,

a força dos sentimentos ausentes

pavimentam os caminhos que meus pés

ainda não andaram.




 

sexta-feira, 17 de junho de 2022



                                    a ressaca da verdade





 

Meu mundo perdeu-se do mundo.

Meus sentimentos debandaram para o limbo dos abandonos.

Raciocínios tortos engendram formas de sarar as feridas.

Conquanto o coração pulsa rendido de desencantamentos.

No mundo que se desfaz em meio às aparências,

as palavras já não atingem o seu fim.

Na ressaca da verdade, os segredos de ontem boiam como merda

na privada.

Vivo de apegar-me a crenças postiças, em que sonho 

e imaginação se confundem.

Encarando a rotina como uma viagem inacabada,

na qual o amor paira como um girassol seco

esquecido no canto da sala. 

Escrevo minha história como um cão que uiva 

para a lua.


  

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