coletivos
O que ela me inspira
mal cabe no peito.
Inflama, arde, corre, voa,
o coração inundado por
cardumes de ternura
enxames de desejos
hordas de carinhos
ninhadas de abraços
miríades de beijos.
amor caricato
Assim eu te amo.
Intensamente, no ato.
Entre o deslumbramento
e o desencanto.
Pois nem sei quem és, de fato.
Sabe Deus no que vai dar
esse amor caricato.
Quero-te assim mesmo, todavia.
Sem planos nem expectativas.
Enquanto o encanto não quebra
e eterna inquietação do amor palpita.
Não é confiável mas tudo bem.
A vida é breve e tenho pressa.
Amo-te sem esperança.
Há um abismo entre nós.
Por mais que tentamos, nossas diferenças
falam mais alto.
Vivemos de breves e intensos momentos.
Sobrevivendo em meio a discussões e agrados.
Tudo começa e termina no mesmo ato
desse amor caricato.
outro
qualquer
eu
Não sou um homem como qualquer outro.
Sou um outro como qualquer eu.
Meu fardo é meu fado.
Sou fiel a meu legado.
Mas não faço nada obrigado.
O que eu era ontem não renego.
Apenas me nego
a continuar cego.
O mundo já acabou
e se refez tantas vezes,
que nada é efetivamente novo.
Tudo morre e renasce
como a galinha e o ovo.
Serão os homens todos iguais ?
Diferentes apenas em condições especiais ?
Quando deixam de ser animais ?
O que sabes tu de mim,
se nem a ti mesmo conheces ?
Teu retrato, perdido em alguma gaveta,
honrosa exceção na profusão
das coisas esquecidas.
Deus se perdeu
na eternidade
ou na senilidade ?
A única morada que dura
é a da sepultura.
pombos sem asas
Por mais que eu tente,
falho em traduzir o que sinto,
mas não obstante o dolo, o ato falho,
o caralho, alhos e bugalhos, e os escambaus,
os tolos enganos são como pombos sem asas,
anseios vãos, vê-se claramente o quanto estou apaixonado,
não me pergunte os porquês
e comos,
quando não há entre nós sequer planos,
nem futuro.
contrastes
Envelheço.
Aos duros contrastes me submeto
como quem vai para o cadafalso.
Eu tinha a ilusão de ser infinito
o sentimento que era meu escudo,
e quebrei a cara.
Mas ainda não perdi o prazer pelo jogo.
Meu viver é solitário, mas das fugas e sonhos
me libertei.
Ao temor de ser eu mesmo, me adaptei.
Na realidade de éter e de gesso,
tudo tem seu preço.
Pago de bom grado.
Sei que em breve serei descartado,
como tudo que já cumpriu seu papel.
onde mora o perigo Não quero mais amar. Mas posso muito bem fingir. Garanto que vai ser até melhor. Sem a parte do mel...