sempre o mesmo périplo
Vigilantes, olhos famintos nos espreitam.
Loucos, ladrões, pederastas, saindo de prédios,
de bueiros,
circulando pelas ruas em bandos,
logo, multidões.
Ninguém mais sabe quem é quem.
No mundo dividido entre chefes e cativos,
ricos e pobres,
os infatigáveis conflitos semeiam eternas
discórdias.
Viver é apenas um hábito de metamorfoses e desditas.
Ninguém é inocente até que se prove o contrário.
Tudo remonta à miséria humana.
De superar-se ou quedar-se
nas vagas da verdade ou da infâmia.
Maior que tudo são as coisas sem nome.
Um punhado de ossos.
O ruído da chuva no telhado de zinco.
As ruínas da tarde.
A luz que refulge no mar.
O vento que encrespa à noite.
O pacto com o acaso.
Violência e ternura no mesmo gesto.
Ideias que velam quimeras.
Coisas que o amor traz e leva.
Defuntas crenças.
Gente, povo, gado.
Sempre o mesmo périplo.