sábado, 11 de fevereiro de 2023



                    

                  o que importa é a essência





Não queira ser o que não é.

Não inveje sequer a formosura alheia.

Pois o que importa é a essência.

Nenhuma beleza se sustenta além do tempo.

Mas o que vai por dentro, sim.

Não queira ser como a rosa,

que impera bela e radiosa enquanto no jardim.

Mas quando posta num vaso,

logo murcha e morre.

E como tudo na vida,

é jogada fora.






sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023



                          matar ou morrer



Saiu menino de manhã.

Voltou homem à tarde.

Com amargura viçosa nos olhos.

O rosto acometido de escamas.

Forte de detritos e exímio em bordas de estradas.

De tão cedo que abraçou o mundo,

ninguém o reconhece mais.

De profissão de natureza esguia.

Raskolnikof talhado em sabedoria iletrada.

O pai o quereria morto.

Já a mãe fingia não ver.

O homem baldio.

Que cresceu na condição de matar ou morrer.

Resto anuroso de pessoa.

Cansado de ser ermo.

Sem um verme que o iluminasse.






 










 




                              um corpo cheio de alma






Envelheço.

Fugas, distrações, atos heroicos, onde me encaixo ?

Aos duros contrastes me adapto. 

Acordo para o que finda.

Não busco mais o ilibado.

Me acostumei aos malfeitos.

Os desafios dispenso.

Aprofundo minhas raízes com o simples propósito

de ser mais forte do que a dor 

que me aborda.

De me penitenciar ou rezar o terço prescindo.

Não almejo ser outra coisa que não um corpo

cheio de alma.

Capaz de tudo, inclusive de nada.





 





 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023



                   o estagnar do estafermo






O inexistente aperfeiçoa o nada.

Eludem as coisas que não representam nada.

O lodo das estrelas, sarjetas cobertas de heras,

retratos de formaturas.

O arremedo encarde crepúsculos.

Nada endireita o que nasceu torto.

O livro de São Cipriano ensina como lidar.

Exceto o estagnar do estafermo.

A função da vida é exerce-la.

Pero isso até as pedras fazem.

No lugar do breve há só o espanto.

Brochuras não vingam em arcanos mentais.

Errante e preso, eis o vareio do saber.

Dizer nem uma coisa nem outra.

A fim de dizer todas as coisas ou nenhuma.

Reaprender a errar é um convite a ignorância.

Uma certa luxúria a liberdade convém.

Há que se dar um gosto incasto à vida.

Enquanto o nada acontece.









  



  



                          mágica





O dinheiro faz mágica

até quando acaba.

Faz pessoas desaparecerem.


               Quer saber quem realmente

                lhe quer bem ?

                Comece a dizer não.


Quando alguém lhe virar as costas,

não vá atrás. Agradeça.

Um encosto a menos.


                Às vezes a melhor maneira

                de resolver um problema é ignorá-lo.


Quando o seu melhor 

não bastar,

tente o pior.


            




 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023



Só posso ser melhor do que sou se, 

e tão somente se,

vir outro eu ser para mim

o que para ele serei.


(Paulo Leminski/ Catatau)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

 

em paz comigo mesmo


entardecer em Saint Vicent Beach


O dia em que eu não mais tiver olhos para o belo. Reparar na beleza do mundo.
O dia em que eu não puder fazer o que gosto, o que me dá prazer. Das coisas mais simples as obscenas.
O dia em que eu não puder andar por aí, gastar o tempo à toa, tomar um expresso no meio da manhã ou um chope ao cair da tarde.
O dia em que eu não sentir mais vontade de preparar algum prato especial para alguém especial, ou para mim mesmo. Com direito a um vinho escolhido a dedo.
O dia em que eu não reparar numa bela mulher passando, não arriscar um flerte, não cobiçar seu belo traseiro.
O dia em que eu não sentir mais vontade de vender meu peixe, literalmente falando, não perpetrar essas mal- traçadas que ninguém lê mas que são como o ar que respiro.
O dia em que eu acordar sem atentar para o canto amigo dos pássaros, e não agradecer mentalmente por tudo que tenho e desfruto.
O dia em que eu não for mais capaz de amarrar os cadarços dos sapatos, de limpar a própria bunda.
O dia em que eu olhar no espelho e não me reconhecer.
Bom, aí eu desejarei partir ou já terei ido desta para melhor. Talvez sem querer. Talvez sem saber.
Mas em paz comigo mesmo.



Postagem em destaque

                             ranhuras Tudo se faz de lutas e esperas. O clamor das mágoas irrompe com furor malsão. O que fica subentendido ...