terça-feira, 11 de abril de 2023



                     o matadouro de Deus



Acordes sinistros povoam a realidade de lágrimas

e tristezas. 

Loucuras sem limites destroçam lares, cidades, nações.

O sangue derramado inunda a eternidade submersa no tempo.

Flores amargas se esparramam pelas incontáveis

campas do mundo. 

Não só seres humanos mas toda a Criação, dizimados

no grande matadouro de Deus.

A quem, ironicamente, apelamos para livrar-nos

de dores para as quais não há cura.




sábado, 8 de abril de 2023



                   hoje eu sei quem sou





Hoje eu sei quem sou.

Sei o poder imenso que mora em mim.

Minha melhor versão tem mandíbulas de leão,

garras de águia, coração de gente.

Me encontrei quando me perdi.

As diletas circunstâncias devo tudo que tenho.

As coisas não ensinadas devo tudo o que sei.

Sem carência de nada, deixei o ontem 

num recanto da memória.

Sem mapas, rotas, planos, vivo intensamente 

o agora.

Prelibando o futuro ontológico.

Carpindo cada dia como se fosse o último.

Incógnito, devoro um pedaço da minha carne

para não depender de ninguém.









 


                         coisas que não tem nome

                                 




No descomeço de tudo, coisas que não tem nome

se apropriam do acaso para traçar o destino traiçoeiro.

O vazio preenche os espaços rompendo muralhas,

arrefecendo ímpetos selvagens.

O coração estranho subjugado

pela visão mítica da realidade simbólica.


Parei de me enganar. O tempo de ser feliz

é escasso.

Somos escravos das aparências.

Laços se desfazem à noite, fragilizados 

pela inútil espera.

A consciência de silício incorpora os males

para superar as agruras.

Paixões fortuitas projetam dissabores orgânicos.

A compaixão releva os pecados que o amor

não perdoa.

O ardor sem contexto salva o mundo

da normalidade doentia.


 




             ecos 



Vasculhei as gavetas

Procurei nos quintais, nas grutas,

nos sótãos,

fotos, relicários, escritos,

ecos de dias distantes

de quando nada sabia da vida.

Obtuso. 

Feliz.



 




Nascemos, inocentes.

E logo nos vemos adestrados

sob normas idiotizantes. 





                          exorcismo



Na cama vazia

ainda sinto teu cheiro

de fêmea no cio.


Não há apego em nosso enleio.

Apenas desejo e sexo remunerado.

É assim que se exorciza

um amor não correspondido.




 

Postagem em destaque

  A gente tem um vício estranho em transformar sofrimento em mérito. Acreditamos que o amor verdadeiro precisa ser uma batalha épica, uma co...