segunda-feira, 4 de setembro de 2023



                   voo cego





Pare para ouvir o silêncio.

No silêncio está todas as respostas. 

Pense no silêncio sepulcral do universo e todos os mistérios 

que encerra por bilhões de anos.

E você quer respostas.

Para quê quer respostas ?

Que diferença faz saber além do permitido ?

Além do que podemos suportar.

Como se não bastasse continuar, não desistir, não esmorecer.

Porque a tentação de não continuar persiste em nós.

A desagregação da vontade persiste em nós.

É fácil ceder ao impulso de acabar com tudo.

Mas, no entanto, o instinto de sobrevivência é mais forte.

A despeito de tudo, das humilhações, do medo, 

da podridão do remorso.

Porque a vida continua através do fogo e da água.

Das imperfeições e da náusea.

Do voo cego do amor.





 



CONSELHOS DE UM AUTODIDATA



Se não tiver o que fazer, não encha o saco dos outros.
Se não consegue ser feliz, não atrapalhe nem inveje ninguém, é feio.
Se não consegue resolver seus problemas, não transfira, não dramatize, fique na sua
para não se tornar indesejável.
Se não sabe fazer, aprenda, estude, trabalhe.
Se não sabe por onde começar, se arrisque, dê o primeiro passo, mas comece !
Se foi enganado, iludido, traído, paciência. Acontece, trate de aprender, e bola pra frente !
Se perdeu a fé, a esperança, faz parte. Tudo passa, não desanime, dias melhores virão.
Pois como já dizia aquele mestre budista, não há bem que sempre dure,
nem mal que nunca acabe.



sábado, 2 de setembro de 2023


Encontrei a mulher da minha vida.

E ela nem me olhou. 


             Carece de explicação

             esse teu silêncio sem razão.

             Ou não ?


Gosto das recatadas

mas são as safadas 

que me atraem.


             Quebrar o brinquedo é mais divertido (Orides Fontela)






                     mortos-vivos



Reparte-se a carapaça dos mortos-vivos

sobre o altar dos mitos corrompidos.

Convertidos em palcos de tropicais tragédias,

que geram e degeneram 

como escamas de todos os mares.

Sombras de cruzes se projetam multiplicando

os suplícios.

Roteiros de há muito comungados remontam a velhos

cais e maresias.

A escuridão procura a âncora mais poderosa.

A placidez dos santos amassa a fé e o pão 

dos que não tem o que comer.

Cães ladram e a caravana passa à luz do provisório saber.

Adeuses soltos ao vento sacodem as crinas do sol de seda.

A vida também sabe deixar de ser, após a morte de tudo.








                        o caminho das pedras





Liberta o que te ampara.

Mostra o que te ensimesma.

Agasalha o frio.

Permita que te compartilhem os ciclos lunares.

Cuida daquilo que encerras como quem se agarra

às pedras.

Não te confundas com a mansidão silente das marés.

Experimenta a sonolência dos cursos.

Renuncia as pretensas prerrogativas das velhas crenças.

E nada te deterá.


quarta-feira, 30 de agosto de 2023



               

                                  o ápice





A solidão me espreita com olhos camaradas.

Já não me detenho em lembrar.

Por inúmeros motivos, parei de me culpar.

Pelo que não deu certo.

Apaguei de uma vez por todas toda 

e qualquer tristeza.

Esqueci que o tempo passa

para viver o ápice.

Sem mais precisar de mentiras e disfarces.

Estabeleci minha própria temporada de caça.

Sem desistir do que sou.

Dessa ternura metida a besta.

A vida benevolente provê a mesa farta.

É tudo o que me basta.








segunda-feira, 28 de agosto de 2023



                   redenção     

             


Não faço mais planos.

Me contento em espantar o tédio.

Para tudo o mais não há remédio.

O imprevisível continua cumprindo sua função.

Não respeita tratos.

Torna tudo em vão.

Sou feliz como um Endimião,

que encontrou sua redenção. 



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