Cerca de mim
o amor medra.
Sangue do meu sangue
não me renega.
a dureza do mundo
Muito tempo se passou
desde que me perdi
pela primeira vez.
Ainda hoje
tento me achar.
De onde estou, já não posso voltar.
Nem quero.
Como sobrevivi a tantos enganos ?
Renomeando-os.
A farsa do amor só é redimível
com o nascimento de um filho.
Esbate-se em mim
a dureza do mundo.
Por mais que eu tenha mudado,
nada muda o fato
de que sou uma fraude.
Não fiz nada direito.
Fui omisso e covarde.
Acordei para a vida muito tarde.
Algoz de mim mesmo,
tive mais sorte que juízo.
Saber finalmente quem sou
é meu prêmio de consolação.
nação de nibelungos
Aqui e alhures,
gesta-se burgos de nibelungos.
Emoções coaguladas envelhecem por dentro,
à luz dos escombros cotidianos.
A força imaterial das escaramuças dispersa
o povo exangue.
O ermo aspira e sacia-se da lucidez que aniquila.
Refestelamo-nos, cansados de recriar as estórias
sob o mesmo alvitre.
O alento que infunde o gemido da linguagem
presume a dor e a cria.
O surdo clamor da justiça mantém-se em rancoroso
desdém, enquanto o galope louco dos dias
urde as mesmas máscaras e presságios.
Herdamos o futuro que se esgarça
iluminado de sombras.
Não há esperança para uma nação de nibelungos.
suja e sem memória
Exima-se da vida que remexe as feridas.
Da vida que consome e fustiga.
Que de ódio e ira se irriga.
Em conformidade com o abismo e o pélago
das diatribes.
Tão cauta e docemente cruel que atravessa
os limites do tempo.
De forma a perpetuar o pervertido, o prazer
de ferir.
Exima-se da vida proficiente em álcool,
drogas, truculência.
Exímia em embustes e luxúria sem moratória.
Reinventada suja e sem memória.
Para glória do Pai Eterno.
A gente tem um vício estranho em transformar sofrimento em mérito. Acreditamos que o amor verdadeiro precisa ser uma batalha épica, uma co...