domingo, 14 de julho de 2024



                        o porto

    



Os guindastes do porto se movem

como letárgicos dinossauros.

Caminhões fazem fila nos pátios imensos,

numa procissão que se repete religiosamente.

Containers e mais containers de insumos de toda natureza

são carregados e desovados

por navios de todas as bandeiras.


O maior porto da América do Sul fervilha.

Tudo é superlativo, gigante, nos quase vinte quilômetros

de seus terminais.

O trabalho é ininterrupto. Dia e noite os estivadores

se revezam na árdua tarefa de carga e descarga.

Já foram em bem maior número e o trabalho

mais estafante e perigoso.

Hoje os sofisticados equipamentos e guindastes

dão conta do mais pesado.

Mas, mesmo assim, são eles que dão vida ao porto,

como um exército de formigas

que mantém tudo funcionando.



  

sábado, 13 de julho de 2024

                                      

                no reverso das bocas




A beleza estagnada

Fendido pelo muro 

Desmorona o abismo

A ira como única testemunha.


O lixo da vida

Desfila distraído

Não queiras o que não vê

Cala e espera

Mãos incendiárias

Jazem ao léu.


O quão lúbrico pode ser o sol ?

O medo carpe amanheceres escarlates

Irmãos engalfinham-se

No reverso das bocas

Nada mais específico

Do que a palavra herética.





Coisas invisíveis atazanam o espírito.

Desejos lascivos procriam feito ratazanas.

A noite deflete o sono das trevas.

O medo exsuda frontispícios de luz. 







Cerca de mim

o amor medra. 

Sangue do meu sangue

não me renega.









O amor chegou tão de mansinho,

na ponta dos pés,

que quando me dei conta,

já havia passado.




                                                      a dureza do mundo





Muito tempo se passou

desde que me perdi 

pela primeira vez. 

Ainda hoje

tento me achar.


             De onde estou, já não posso voltar.

             Nem quero.


Como sobrevivi a tantos enganos ?

Renomeando-os.


                A farsa do amor só é redimível

                com o nascimento de um filho. 


Esbate-se em mim

a dureza do mundo.

               

               Por mais que eu tenha mudado,

               nada muda o fato 

               de que sou uma fraude.

               Não fiz nada direito.

               Fui omisso e covarde.

               Acordei para a vida muito tarde.

               Algoz de mim mesmo,

               tive mais sorte que juízo.

               Saber finalmente quem sou

               é meu prêmio de consolação.

               


quinta-feira, 11 de julho de 2024


                               nação de nibelungos



Aqui e alhures, 

gesta-se burgos de nibelungos. 

Emoções coaguladas envelhecem por dentro,

à luz dos escombros cotidianos.

A força imaterial das escaramuças dispersa

o povo exangue.

O ermo aspira e sacia-se da lucidez que aniquila.

Refestelamo-nos, cansados de recriar as estórias 

sob o mesmo alvitre.

O alento que infunde o gemido da linguagem 

presume a dor e a cria.

O surdo clamor da justiça mantém-se em rancoroso

desdém, enquanto o galope louco dos dias

urde as mesmas máscaras e presságios.

Herdamos o futuro que se esgarça

iluminado de sombras.

Não há esperança para uma nação de nibelungos. 



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