domingo, 11 de agosto de 2024




                    sei do amor por ouvir dizer





Sei do amor por ouvir dizer.

Sérias e fundas controvérsias cercam o assunto.

Há quem fale maravilhas e diga que não consegue

viver sem.

Já outros fogem dele como o diabo da cruz.

Donde se conclui que não há como saber

sem experimentar.


Sei de ouvir que o amor é bicho arisco e ardiloso.

Que pode ser doce como fel.

Cego entre luzes e faróis.

Pode ir do tudo ao nada do nada, enquanto sangra

ou joga tênis.

Não obstante degenerar-se com o tempo, 

regozija-se e multiplica-se até a exaustão, 

enquanto adestra os instrumentos de possessão.

Como isso pode ser bom, me diga você, sabichão ?


De minha parte, prefiro pegar gripe, gonorreia, câncer.

Qualquer coisa é melhor que ficar à mercê de algo

que pode te levar

do céu ao inferno, sem nem mais nem por quê.

Amar, está na cara, é para os fortes e destemidos.

Para os carentes, os caretas que ainda acreditam em 

balelas como fidelidade e baboseiras como "juntos até

que a morte nos separe".


Sei do amor por ouvir dizer.

Em vão, tentei não me submeter.

Como se o coração não fosse

mais cego e surdo que uma porta. 



















                            oferendas





A cruz não se opõe a novas trevas.

Ancestrais desígnios esmagados no nascedouro

saúdam os recém-nascidos.

Legiões de parasitas e pederastas fazem as honras da casa.

O desconhecido veste o manto roto das penitências.

Oferendas de lábios e úteros metálicos contornam

a solidão de arame farpado.

Não há para onde fugir dos campos minados de Alquds.

O tumor da terra desconhece a compaixão.

O Oculto dá-se ao luxo de ficar calado, enquanto

renova o pacto com o demônio.

O que dizer às crianças sobre o mundo caduco

que as espera ?



 

 

sábado, 10 de agosto de 2024

                        

                         carnificina




O mundo é um grande moedor de carne.

Milhares de rebanhos, cardumes, espécies, são

dizimados todo santo dia.

De todas as idades.

De todas as formas.

Degoladas, esfoladas, trituradas, descamadas

sem dó nem piedade.

Rios de sangue e montanhas de ossos dão testemunho

dessa atroz carnificina.

O apetite da espécie humana é insaciável.







                     o sêmen do mal



 
O mal é o sêmen de mirantes ensandecidos

muros perfumados

antros suicidas

grotas que arrotam morte.

Não há hipótese de uma nova ordem.

É sempre o mesmo furor e sua beleza estonteante.

O Inferno parecendo o Paraíso, e o Paraíso parecendo

o Inferno.

Nunca se sabe qual é o melhor ou o pior.

Atrocidades não têm credo, raça, preferências.

Onde cresce o fungo da discórdia e da intolerância

jaz o mausoléu das crenças.

A ordem que rege a humanidade gira em torno de abismos.

Mutirões de eleatas removem montanhas que desatam nós,

com a fé de anjos que perderam as asas.

A civilização se rende à sua própria sorte.

Como um moribundo que não morre nem se cura. 








sexta-feira, 9 de agosto de 2024



                             aptidões





Sou bom em tudo aquilo que não serve para nada.


                  Não brigo com os fatos.

                  Barganho.


Uma das (poucas) vantagens de ser pai na velhice

é saber que não terá tempo de ver o produto final.


                A vida só se revela totalmente

                quando você percebe que foi enganado

                por todo mundo.


O que nos habilita ao sucesso e ao fracasso

é basicamente a mesma coisa.

Aptidão.


                O santo e o herege são igualmente degenerados,

                por motivos opostos.





quinta-feira, 8 de agosto de 2024



                          ancestralidade




 

 

Um manto de veludo cobre a noite.

A lua chega de mansinho, procurando um lugar

para dormir.

As estrelas parecem derreter, confabulando

com o infinito.

O espaço abriga os ossos da eternidade.

O resto é luz 

transformada em travesseiros de sonhos.




 



                    emulações


                           tela de Agim Sulaj


A vida mortífera vê o túmulo de perto.

O tempo que passa eternamente é abundante e velado.

A morte passeia entre lobos e cordeiros, com 

os lábios calados em reverência à podridão da terra.

Todos carentes de qualquer coisa guardam segredos

nas profundezas.

Homens vidrados em mutilações apertam-se as mãos,

enquanto se ignoram. 

Onde não há esperança o céu respira feridas abertas.

O Oriente se vinga do Ocidente falsificando 

o sangue negro.

Até quando dormirá o Leviatã de Tanakh ?

O Muro da Lamentações zomba da verdade.

Sem testemunhas, o mundo converte paredes

e emulações réprobas em pensamentos.

Para que a humanidade rumine a paz.



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