quinta-feira, 5 de junho de 2025


                      como o amor deve ser





É possível que ainda exista amor por aí.

Anônimo e desconfiado.

Reciclado e amancebado.

Incrédulo e desfigurado.

Imprevisível e reconciliado.

Aguardando por algum coração desavisado.


É possível que ainda exista amor por aí.

Como um oásis em pleno deserto.

Ou o próprio deserto.

Tardo e falho.

Exótico e neurótico.

Expert em torturas eróticas.


É possível que ainda exista amor por aí.

À prova de dor e de flor.

Antigo como um manuscrito.

Cheio de sabedoria e loucura.

Amplo em facadas e prazer.

Como o amor deve ser.


Triunfante e debochado,

caminha sobre brasas,

sem defeitos nem qualidades,

iluminado de escuridão,

se não é amor, 

o que é ?





quarta-feira, 4 de junho de 2025

                      ninguém é de ferro



O vivido busca sentido no inexistido.

Ser feliz, tarefa inglória.

Tudo se mistura, ócios e negócios,

farsa e tragédia, fartura e miséria.

Na vida do avesso, a história se repete 

entre ossos e equinócios.


Mastigo as pedras do caminho sangrando

em silêncio.

Fiel a minha coroa de espinhos.

Estreito meus laços remoendo as discórdias.

Pois só assim se aprende.

Ruminando o amor e a dor.

Habitando a indiferença das poltronas e labirintos.

Quero o que preciso achar.

Ambíguo e volúvel.

Dias de festas.

Noites amorosas.

Vermes em fruição.

E um pouco de álcool,

que ninguém é de ferro.







                         

                   e já não é sem tempo



Tudo o que mais desejo é não ter desejos.

Ser o verme que penetra a fruta.

Livre, leve, solto, como se estivesse voando

para fora de mim mesmo.

Astronauta pisando em estrelas.

Distraído como a solidão das borboletas.


Afinal, se juntos nos dividimos,

se distantes nos aproximamos,

de que vale querer, sofrer

por algo que não podemos ter ?


Todas as coisas que mais desejo

não me desejam.

Se esquivam.

Me evitam.

Cansei de querer e não ter.

De correr atrás e ficar para trás.

O que busco nem sabe que existo.

Não se deixa possuir.

Talvez por não saber pedir.

Talvez por não saber esperar.

Talvez por pedir, por esperar demais.

Vá saber.


Por via das dúvidas, nada mais quero.

Nada mais almejo.

Além de tempo para aprender

a voar com minhas próprias asas.

E já não é sem tempo...





 


                       chiclete                           


Flor do dia

Minha luz, minha melodia 

Tua alegria me contagia

Fez meu coração de moradia.

Você é meu sol, meu guia.

Deu sentido a minha vida vazia.


Tudo em ti é simples e belo.

Quando estamos juntos 

nem sinto o tempo passar.

Quando te ausentas, o mundo parece parar.

Conto os minutos para te reencontrar.

Tremo só de pensar que de mim possas enjoar.

Que canse do meu jeito de amar.

Amplo, inflamado.

Talvez um pouco exagerado.

No fundo, um romântico inveterado.


(Mas, veja lá, só não abuse nem confunda 

intensidade com dependência.

Sou chiclete mas não marionete.)






                             famintos de amor


Tudo é tão simples e tão complicado

que talvez fosse melhor

não levar nada muito à sério.

Bobagem preocupar-se por antecedência.

Um sonho finda e outro começa.

Afetos vêm e vão.

No fundo, tudo é uma grande ilusão.


O que os olhos não veem

o coração não sente,  e bola pra frente !


Foi no caminho do acaso que encontrei

o amor.

Ambos meio que de mãos abanando, 

meio que perdidos, vindos de não sei onde.

Sem saber, famintos de amor.

E a vida nunca mais foi a mesma.

Tão simples.

Tão complicada.
















  

segunda-feira, 2 de junho de 2025


                          extraordinário



Meu momento é de contrição. 

Me resguardo dos sonhos grandes e amores

impossíveis (risíveis ?).

Mas ainda sou o mesmo.

E por ser o mesmo, aberto a novos erros.

Amplo, inflamado, ainda capaz de algo

extraordinário. 

Amar o ordinário.





                              prodígios                    


Há sempre um ritmo oculto

à reger as coisas.

Nada acontece por caso.

Nem o acaso.

Cada caso é um caso.


Todos os seres vivos se inventam

e se reinventam

conforme as circunstâncias,

em seu devido tempo.

Plena e insurgida, a vida cumpre-se e gasta-se

em seu múltiplo existir.

A cada instante o novo e o velho

se cruzam

para engendrar o precário presente.

A cada instante a vida começa e recomeça.

Ou acaba.

Enquanto prodígios acontecem.



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