sexta-feira, 6 de junho de 2025


                 um pouco de tudo


Já não estando, ficando

Já não querendo, dando

Dei de melhorar, piorando

Me perdendo, procurando


Ai de mim, meu olho não repousa

Tudo o que aumenta, piora

Tudo o que é vago e vulgar

encanta o mundo.


Miséria pouca é bagagem

No dia lindo de morrer, o terror ignora 

o cessar-fogo

Qualquer coisa é melhor que nenhuma


Carrego um pouco de tudo

Pedras preciosos e entulhos

Coisas que venho garimpando

nos descampados do mundo


Sou um pouco de tudo

Gente fina e vagabundo

Não sou herói nem bandido

Sou o vício da minha cura.






                    nem tanto ao mar, nem tanto a terra.



Nada do que tive se compara

ao que tenho agora. 

O presente é tudo o que importa.

De que vale lembrar das alegrias da vida pregressa

se tudo ficou para trás ?

Ainda mais que nem tudo foi tão bom, tão real,

como me parecia.

Que por melhor que a vida tenha sido, nada é duradouro.

Muito menos o amor.


Há que ter consciência de que a vida é feita

de altos e baixos.

Que o segredo é manter o prumo.

Sem se deixar levar pela empolgação ou pelo desespero.

Em suma, nem tanto ao mar, nem tanto a terra.

Ninguém é feliz sem conhecimento de causa.


  


        antes, durante, depois


Não sei se ainda há amor entre nós.

Se ainda é amor o que sinto.

Me dói admitir que já não te vejo como antes.

E certamente sentes o mesmo.

E eis que o impasse se estabelece.

Prosseguir, administrar, se conformar

com uma relação morna, 

baseada muito mais em companheirismo,

ou tirar o time, partir para outra ?


Não há como saber qual o melhor caminho.

Há muitos fatores em jogo, que exigem

reflexão, pé no chão.

Compreender o real significado 

do antes, durante e o depois.


De tanto amar nos perdemos no tempo.

Subitamente, nos vemos confusos, insatisfeitos.

Desejosos de auroras que não vimos.

De repente, tempos pressa e a insatisfação

nos leva a acreditar que há uma nova vida

à espera.

Redescobrir um Paraíso que nunca mais 

será o mesmo. 


Eis os fatos. Não se pode ter tudo.

E tudo tem um preço.

Não se iludir com o amor que chega

já de partida.

Trocar seis por meia dúzia.

Conferir o que vê no espelho.

Se mancar que talvez 

já tenha passado tua hora.






  


             caminhando sobre brasas


Não sei,

não vi,

se ainda há amor por aí.

Anônimo e desconfiado

Reciclado e desfigurado.

Imprevisível e obcecado.

À espera de algum coração desavisado.


Não sei, não vi, 

se ainda há amor por aí.

Como um oásis no deserto.

Ou o próprio deserto.

Imenso e falho.

Exótico e neurótico.

Expert em jogos eróticos.


Não sei, não vi,

se ainda há amor por aí.

Antigo como um manuscrito.

Cheio de sabedoria e loucura.

Convivendo entre facadas e prazeres.

À prova de dores e flores.

Como o amor deve ser.


Não sei, não vi,

se ainda há amor por aí.

Triunfante e debochado

Caminhando sobre brasas

Esbanjando defeitos e qualidades

Iluminado de escuridão

Como só o amor sabe ser.




quinta-feira, 5 de junho de 2025




                 a alquimia do amor


Difícil de encontrar

Mais difícil ainda de durar

A alquimia do amor mistura

o velho e o novo

sabedoria e loucura

luz e escuridão.


Findo o encanto, todos fracassam.

Do nascimento ao livre-arbítrio, 

tudo precisa ser visto e revisto.

o buraco negro da existência é mais embaixo.


Todos têm direito a ser feliz.

Poucos conseguem.

O amor é difícil de encontrar.

Mais ainda de durar.






                      como o amor deve ser





É possível que ainda exista amor por aí.

Anônimo e desconfiado.

Reciclado e amancebado.

Incrédulo e desfigurado.

Imprevisível e reconciliado.

Aguardando por algum coração desavisado.


É possível que ainda exista amor por aí.

Como um oásis em pleno deserto.

Ou o próprio deserto.

Tardo e falho.

Exótico e neurótico.

Expert em torturas eróticas.


É possível que ainda exista amor por aí.

À prova de dor e de flor.

Antigo como um manuscrito.

Cheio de sabedoria e loucura.

Amplo em facadas e prazer.

Como o amor deve ser.


Triunfante e debochado,

caminha sobre brasas,

sem defeitos nem qualidades,

iluminado de escuridão,

se não é amor, 

o que é ?





quarta-feira, 4 de junho de 2025

                      ninguém é de ferro



O vivido busca sentido no inexistido.

Ser feliz, tarefa inglória.

Tudo se mistura, ócios e negócios,

farsa e tragédia, fartura e miséria.

Na vida do avesso, a história se repete 

entre ossos e equinócios.


Mastigo as pedras do caminho sangrando

em silêncio.

Fiel a minha coroa de espinhos.

Estreito meus laços remoendo as discórdias.

Pois só assim se aprende.

Ruminando o amor e a dor.

Habitando a indiferença das poltronas e labirintos.

Quero o que preciso achar.

Ambíguo e volúvel.

Dias de festas.

Noites amorosas.

Vermes em fruição.

E um pouco de álcool,

que ninguém é de ferro.







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