domingo, 3 de agosto de 2025


                         

                              você




Você é um mar sem porto

O conflito da paz

O enigmas que não se resolve. 


Você é o inverno sem interstício

A guerra do armistício

O gozo da tristeza


Você é a fera sempre de tocaia.

A beleza da feiura

A feiura da beleza


Você é a alegria do abandono

A virtude da maldade

A indecente castidade


Você é a derrota da vitória

Ao mesmo tempo, carcereira e prisioneira

O mal que me faz bem


Você é o desejo sem enleio

O prazer da culpa

O vício que cura


Você é o começo e o fim

Tudo de bom e de ruim

Não sei o que será de mim,

por amar alguém assim







              o amor de um homem maduro





O amor de um homem maduro é diferente 

do de um jovem. 

É menos impetuoso, mais sereno.

É menos fogoso, mais carinhoso.

É menos volúvel, mais confiável.

É menos aventureiro, mais companheiro.


O amor de um homem maduro

não tem pressa, nem se apressa.

Come pelas beiradas.

Não é egoísta, não faz juras de amor.

Ao invés de prometer, faz, demonstra.

Mata a cobra e mostra o pau.

É experiente, e por isso menos exigente,

mais paciente.

Sabe como tratar uma mulher.


O amor não tem idade, mas muda com o tempo.

Às vezes gratificante, às vezes fazendo estragos.

Pode ser um desastre ou um porto seguro. 

Como o amor de um homem maduro.







quarta-feira, 30 de julho de 2025


          em nome de Jesus


Não tenho hora para acordar.

Nem para dormir.

Meus dias são uma bagunça.

Não consigo me organizar.

Há sempre imprevistos, emergências.

Sem falar das aporrinhações.

Não é mole criar três filhos

praticamente sozinha.

Nem trabalhar eu posso.

Dependo - e aí a maior tragédia - da boa vontade

de outros, no caso, 

dos pais das crianças. 

Três crianças com pais diferentes.

E é por isso que não posso nem reclamar,

estou pagando pelas escolhas de merda que fiz,

e não há como consertar.

Tenho só 25 anos e às vezes penso 

até em me matar.

Mas, por outro lado, são justamente essas crianças

que me dão coragem para seguir em frente.

No amor não acredito mais.

Só peço a Deus que eu possa encontrar um meio

de sobrevivência, sem depender de mais ninguém.

Estou cansada de humilhações.

Tenho fé que ainda vou vencer na vida.

Rezo todo o dia para isso.

Em nome de Jesus, amém !


















terça-feira, 29 de julho de 2025


               o fim do amor



Não, 

não é o fim do amor o que mais dói.

O fim do amor a gente nem sente.

Matamos o bicho aos poucos todos os dias.

Negligenciando, aprontando, deixando de fazer.


O fim do amor se dá aos poucos.

Sem manutenção, sem cuidado, 

é como um carro, um dia quebra, 

te deixa na mão.

Simplesmente acaba.


Muito mais sofrido, dolorido, é descobrir

que nem amor existia.

Que se vivia uma farsa.

Farsa que também aos poucos se revela.

Sem fantasia,

sem magia,

sem poesia.


Não, 

não é o fim do amor o que mais dói.

Pior é ter vivido algo que foi,

sem nunca ter sido.










                       caixinha de globs-globs

  


Abri uma janela para o sol.

Comprei móveis novos.

Adotei um  gato de rua.

Entrei para uma escola de artes. 

Renovei meu guarda-roupas.

Troquei o carro por uma bicicleta.

Fiz as pazes com meu maior desafeto.

Quitei uma dívida antiga.

Comi pastel com caldo de cana.

Joguei as cinzas do meu pai no estuário.

Mandei flores para o meu amor.

Que havia se mudado e eu nem sabia.

Troco o meu reino por uma caixinha

de globs-globs.












domingo, 27 de julho de 2025


                             a cura


Agora eu sei, o coração cura quando entende,

e não quando esquece. 

Eu não esqueço, mas hoje eu entendo,

e te perdoo

por ter me deixado, 

e até mesmo de ter me pintado de vilão.


Hoje eu entendo e sei que, no fundo, o maior

culpado fui eu.

Por não ter te amado como esperavas e merecias.

Fui ausente, às vezes até indiferente,

me acomodei,

enquanto você seguiu em frente.

Simples assim.


Agora eu sei, o coração cura quando entende,

e não quando esquece.

Porque nunca esqueci 

o quanto foi bom enquanto durou.

É tudo o que importa.







                                              de repente


De repente, o vazio.

O abandono.

De repente, o mistério que envolve 

o acaso.

Nas coisas que acabam do nada.

Ou por tudo que não foram.


De repente, a vida pelo avesso,

o avesso da vida.

A história aniquilada.

A dor da memória.

O impagável preço

do apreço rompido.





 

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