terça-feira, 30 de abril de 2024


                    refugos do mundo


A urbe silencia entre imagens gastas.

A multidão rasteja como uma centopeia cega,

sem rumo e sem saída.

Arrastando renques de torturadas vértebras,

sob o olhar duro de um vil magistrado.

A espaventosa guirlanda de valores necrosados

envergonha os noticiários.

Nem os pensamentos escapam a censura.


Inútil contestar a máquina fóssil que persegue 

convulsos féretros.

O monstro togado escogita iniquidades impudentes.

Palavras a esmo desdenham dos patriotas castrados,

enquanto a urbe estronda parlengas ludopédicas.

Refugos do mundo monopolizam as atenções.

Águas do dilúvio ancestral lava os confins da terra.

Enquanto o pior não chega.



segunda-feira, 29 de abril de 2024


                         nós e os outros





Não procure o que não existe.

Não do jeito que você pensa.

Não nos outros.

Mesmo de quem você ama.

Expectativas sempre ficam aquém da realidade.

Porque os outros se mascaram.

Porque os outros dissimulam.

Porque os outros se compram e se vendem.

Mas, lembre-se, para os outros, nós somos os outros.

Mentira, traição, náusea, são as únicas garantias.

O mal atrai o mal e ambos se entendem.

Cumpre libertar-se do jogo perigoso das aparências.

Separar o silêncio da mordaça.

Tudo que é divino sucumbe diante do real.

A lucidez se forma oculta e embriagada.

Só o que é impessoal e livre perdura.

A margem de ti hiberna a própria vida desejada.

Não há amor imaculado nem tardes limpas.

Porque amei como se o amor fosse eterno.

E quebrei a cara.




domingo, 28 de abril de 2024




Chove. 

Simplesmente chove.

Sem metáforas. 

Fim.





                     apoteoses invertidas


Em nome das desditas cotidianas, o eterno caos 

arma e vela 

a via crúcis dos dias impuros.

Sob o torvelinho mudo da existência pulsam 

chagas e estrelas.

Tudo acontece à revelia das inocências 

perdidas.

Meu palco dos acontecimentos desmonta

as apoteoses invertidas.

Espalho as cinzas dos malogros pelos campos

floridos da juventude.

Ébrio das próprias fantasias.



sábado, 27 de abril de 2024


                            viva, aproveite, celebre



 


 

 Celebre a vida enquanto pode.

Enquanto há tempo. 

                                Enquanto estiver gozando de boa saúde, 

das faculdades mentais.

                               O que por si só já é motivo e tanto para celebrar.

Faça de conta que está tudo bem, mesmo não estando.

                               Seja amigável, não custa nada.

Faça o bem e esteja certo de que a lei da semeadura retribuirá.

                               Não se irrite nem brigue por ninharia.

Ficar quieto também é sinal de sabedoria.

                               Seja paciente, criterioso, nada como um dia após o outro.

Seja bom sem esperar por reconhecimento e retribuição.

                                Sonhe sonhos realistas, não se iluda com promessas

nem espere nada de mão beijada.

                               Tudo que é de valor tem seu preço.

Valorize o que deve ser valorizado e saiba abrir mão

daquilo que lhe faz mal.

                               Entre tristezas e alegrias, tenha sempre essa percepção.

Que é preciso se livrar de crenças vulgares e nocivas.

                              Não se deixar envenenar pelas coisas ruins que acontecem.

Viva, aproveite, celebre, não deixe para viver 

depois que tudo passou.







sexta-feira, 26 de abril de 2024


                          

                           última tentativa





Em tudo jaz em mim gozos baldos.

Desejos rastejam, machucados pela vida.

Meu nada é tudo o que tenho a oferecer.

Onde há muitas diferenças, o coração não dá conta.

E estou cansado de lutar.

Preciso estar sozinho para me encontrar.

O nós em que acreditava vive em pé de guerra.

O que eu adorava em você, numa ameaça ciclotímica 

se tornou.

Você me faz parecer pior do que sou.

O inferno parece mais acolhedor.

Às vezes me pergunto : como saio dessa ?

Sempre em litígio, afundamos em discussões tolas.

Já foi o tempo em que me renovava na tua companhia.

Nós dois já desistimos mas continuamos a tentar.

De briga em briga vamos adiando a última tentativa.

Preciso cair fora, mas não consigo.










quarta-feira, 24 de abril de 2024



                       virar a página


Virar a página.

Libertar-se do jugo

das coisas mal-resolvidas.

Daquilo que fere, machuca.

Da cara metade.

Vade retro, minha cara.




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